Presidente do STF manda recados a Bolsonaro em discurso de abertura do semestre do Judiciário. Logo em seguida, presidente volta a questionar urna eletrônica.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, afirmou nesta segunda-feira (02/08) que a harmonia e a independência entre os poderes da República “não implicam impunidade de atos que exorbitem o necessário respeito às instituições”.
Ele também disse que a população não aceitaria qualquer solução para crises que o país enfrenta que seja em desacordo com a Constituição. “No contexto atual, após trinta anos de consolidação democrática, o povo brasileiro jamais aceitaria que qualquer crise, por mais severa, fosse solucionada mediante mecanismos fora dos limites da Constituição”, afirmou.
O discurso marcou a abertura do segundo semestre do Judiciário e foi um recado ao presidente Jair Bolsonaro, que tem feito seguidos ataques a ministros da Corte e do Tribunal Superior Eleitoral.
O presidente também tem realizado ameaças constantes às eleições de 2022 se não o país não adotar até lá o voto impresso, por vezes personificadas na figura do atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Luís Roberto Barroso.
Fux não mencionou o nome de Bolsonaro em nenhum momento do discurso, mas afirmou que “os juízes precisam vislumbrar o momento adequado para erguer a voz diante de eventuais ameaças”.
O presidente do STF também afirmou que o regime democrático precisa ser “reiteradamente cultivado e reforçado”, com respeito às instituições e aos que se dedicam à causa pública. “Ausentes essas deferências constitucionais, as democracias tendem a ruir”, disse.
Bolsonaro enfrenta Barroso
Após o discurso de Fux, Bolsonaro voltou a defender o voto impresso e a enfrentar Barroso, que segundo ele teria influenciado os deputados que são membros da comissão especial da Câmara onde tramita a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para alterar o sistema de votação no país.
“Queremos uma farsa no ano que vem ou uma eleição marcada por suspeição? (…) Chefe de Poder tem limite. Não é ‘o que eu quero, pode confiar’. É o povo que tem de confiar. Temos obrigação de lutar por democracia”, disse o presidente, em cerimônia no Palácio do Planalto.
O voto impresso é uma das principais bandeiras atuais de Bolsonaro, que afirmou diversas vezes, sem apresentar provas, que o sistema eleitoral brasileiro é vulnerável e que houve fraude em eleições anteriores.
Neste domingo, em videochamadas transmitidas em atos realizados por seus apoiadores, o presidente voltou a ameaçar o pleito de 2022 se não for adotado o voto impresso – ao qual ele se refere como auditável, apesar de a urna eletrônica já ser auditável.
A PEC sobre o voto impresso pode ser votada nesta quinta (05/08) pela comissão especial da Câmara que analisa o tema. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro, afirmou na última sexta que essa discussão é “perda de tempo” e que levantar dúvidas sobre a lisura das eleições “é ruim para o país”.
Críticos apontam que Bolsonaro – assim como fez o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump – semeia dúvidas sobre o processo eleitoral para abrir caminho para não aceitar o resultado das eleições de 2022 caso seja derrotado.
Carta em defesa da urna eletrônica
O discurso de Fux com críticas indiretas a Bolsonaro ocorreu no mesmo dia em que nove ministros do Supremo e nove ex-ministros que presidiram o TSE divulgaram uma nota na qual defendem o atual sistema de votação eletrônica e rebatem as acusações de fraude feitas por Bolsonaro.
O único ministro da atual composição do Supremo que não assinou o manifesto divulgado nesta segunda é Kassio Nunes Marques, indicado à Corte por Bolsonaro. Os demais nove ministros da Corte são signatários, incluindo o atual presidente do TSE, Luís Roberto Barroso.
A carta afirma que, desde 1996, quando o sistema de votação eletrônica foi implantado, “jamais se documentou qualquer episódio de fraude nas eleições” e que, nesses 25 anos, “a urna eletrônica passou por sucessivos processos de modernização e aprimoramento, contando com diversas camadas de segurança”.
A carta afirma que, desde 1996, quando o sistema de votação eletrônica foi implantado, “jamais se documentou qualquer episódio de fraude nas eleições” e que, nesses 25 anos, “a urna eletrônica passou por sucessivos processos de modernização e aprimoramento, contando com diversas camadas de segurança”.