UE prepara ofensiva para frear avanço de Rússia e China na América Latina

Documento elaborado pelo bloco alerta que a Europa se equivocou ao se afastar da região, permitindo a expansão da influência econômica de Pequim e Moscou.

O avanço econômico e diplomático de Moscou e Pequim na América Latina acendeu o alarme na União Europeia (UE). É o que aponta um documento do bloco, obtido pelo jornal espanhol El País.

O documento afirma que essa tendência se deu por descuido da UE, que nos últimos anos se afastou da região. O foco dado pela Europa a questões envolvendo países mais próximos, como a Líbia, a Síria e, agora, a Ucrânia, abriu um vácuo que permitiu que China e Rússia estreitassem laços com muitos dos 33 países da região, tradicionalmente ligada política e economicamente aos EUA e à Europa. O texto aponta ainda que muitos países da região não concordam com a resposta dada pela Europa à Rússia em represália à operação militar especial na Ucrânia.

O texto destaca que, em contraponto, a China multiplicou o número de parceiros na América Latina entre 2000 e 2020, se tornando o primeiro ou o segundo mais importante parceiro comercial em vários países, desbancando países europeus e os EUA. O documento lembra que 21 dos 33 países latino-americanos se juntaram à Nova Rota da Seda da China.

Diante disso, Bruxelas prepara uma ofensiva com vistas a retomar sua influência política e econômica na América Latina em 2023. Para frear o avanço de Moscou e Pequim, a ofensiva da UE visa promover um “salto qualitativo” na relação com os países.

“A credibilidade e a capacidade de alavancagem da União Europeia na região está em risco”, diz o texto, elaborado pelo Serviço Europeu para a Ação Externa, chefiado pelo vice-presidente da Comissão Europeia Josep Borrell.

Para reverter esse cenário, o eurodeputado Javi López, presidente da delegação europeia na Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana, afirma que “a chave será ter uma agenda de medidas que ajudem os países latino-americanos a superar as consequências macroeconômicas do conflito na Ucrânia”. Ele destaca que a América Latina caminha para uma tempestade perfeita “com alta de juros e margem fiscal esgotada”.

Um dos temores da UE é a atual onda que vem elegendo governos considerados “antiestablishment” pelo bloco, como Pedro Castillo, no Peru; Gabriel Boric, no Chile; Gustavo Petro, na Colômbia; Xiomara Castro, em Honduras; e Rodrigo Chaves, na Costa Rica. O documento alerta que uma eventual vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais do Brasil deste ano poderia culminar no que o texto chama de “transição notável” na região, com governos que giram da direita para a esquerda.

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