Cristiano Carvalho disse ter sido informado por Luiz Dominghetti sobre “comissão” por dose de vacina proposta por diretor do Ministério da Saúde Roberto Dias. Veja os principais pontos do depoimento à CPI da Pandemia.
O representante da Davati Medical Supply, Cristiano Carvalho, afirmou em depoimento à CPI da Pandemia que tinha conhecimento sobre um suposto pedido de propina para a compra de vacinas pelo Ministério da Saúde.
Inicialmente, ele disse que sabia de um pedido de comissão para venda de vacinas ao Ministério, cujo valor seria reservado para o grupo ligado ao coronel da reserva Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério.
Mais tarde, Carvalho mudou sua argumentação. Ele disse que soube primeiramente da suposta cobrança de propina ao tomar conhecimento do nome de Roberto Ferreira Dias, então diretor de Logística do Ministério da Saúde, acusado de cobrar um dólar por dose na compra de compra de 400 milhões de doses da vacina contra covid-19 da AstraZeneca.
Dominghetti o informou sobre pedido de propina
Segundo disse, a informação chegou a ele através do policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que atuava como representante da Davati e teria negociado a venda de vacinas através da empresa para o Ministério. Foi o próprio Dominghetti denunciou à imprensa a suposta cobrança de propina.
Carvalho disse que Dominghetti teria utilizado o termo “comissionamento” ao se referir à suposta propina. “Ele se referiu a esse comissionamento com sendo do grupo do Blanco e a pessoa que havia apresentado a ele ao Blanco, que é de nome Odilon”, afirmou Cristiano.
Cristiano ainda disse que chegou a ser procurado por Dias, que era chefe de Blanco semanas antes do contato, em 3 de fevereiro. Ele diz que não participou do jantar em um Shopping Center de Brasília, no dia 25 de fevereiro, onde teria ocorrido a negociação que envolveu o valor da propina, entre Dominghetti, Dias e Blanco.
“Eu não participei do jantar, sempre foi […] tudo que ele [Dominghetti] estava dizendo ali eu não tinha certeza. Eu não podia confirmar que havia existido esse pedido de propina. Deixei claro até como colega que ele vir numa comissão como a dos senhores, com a presença de Policia Federal, para ele ter cuidado, certeza do que ele estava fazendo, para ser fidedigno”, disse Carvalho.
Contato com Roberto Dias
Carvalho teria recebido um tefelonema de Dias no começo de fevereiro, pedindo informações sobre como a vacina poderia chegar ao Brasil. O então diretor do Ministério da Saúde indagou sobre o preço das doses, mas não teria mencionado nenhum tipo de propina ou comissão.
“Falou que estava buscando vacinas ao governo federal, que não estava encontrando através dos fabricantes. Ele queria saber como era feita a aquisição, como era pago”, relatou Carvalho. Ele afirmou que o suposto pedido de propina foi relatado por Dominghetti em 12 de março.
Em seu depoimento à CPI, no dia 7 de julho, Dias afirmou que, de fato, procurou Carvalho, após o coronel Blanco lhe relatar a oferta da Davati, e disse que procurou o representante da Davati para ter mais informações.
“Dois caminhos” para venda de vacinas à Saúde
Carvalho afirmou que parecia haver dois caminhos para a venda de imunizantes ao Ministério da Saúde: através de Dias ou do coronel da reserva Élcio Franco, ex-secretário-executivo da Saúde.
“O caminho que ele [Dominghetti] tentou via Roberto Dias aparentemente não prosseguiu por conta de algum pedido que foi feito, lá, segundo chegou para mim no primeiro momento como grupo do Blanco ou do Odilon”, disse Cristiano.
Ele disse que, embora não estivesse mais na Saúde, Blanco atuava como representante de Dias, e afirmou que não conhece a pessoa de nome Odilon, que, segundo as denúncias, teria parte dos ganhos pela venda das vacinas. Ele disse que somente que foi procurado por ele, justamente para tratar de comissão das vacinas. “Se eventualmente surgisse uma venda, quanto ele receberia.”
Carvalho negou ser chefe da Davati no Brasil
Carvalho negou ser o CEO da Davati no Brasil. Ele disse que foi chamado de forma “equivocada e folclórica” por Dominghetti que, em seu depoimento à CPI, utilizou diversas vezes o termo CEO ao se referir sobre Carvalho.
“Nunca me apresentei a ele como CEO da Davati e ele sempre soube que eu era só mais um vendedor da Davati no Brasil”, disse. “Não tenho vínculo empregatício, não tenho contrato, nunca fui remunerado para fazer essa aproximação da Davati com o governo brasileiro” reiterou.
O proprietário da Davati, Herman Cardenas, já havia confirmado que Carvalho era somente um vendedor autônomo que representou a empresa em tratativas com o governo.
Negociações “saíram do controle”
O depoente disse que as negociações em nome da Davati saíram do controle ao envolverem o governo federal, os estados e as prefeituras, através do reverendo Amilton Gomes de Paula, da ONG Senah.
“Tomou uma dimensão bem grande, porque, através do reverendo Amilton, que fez um grande trabalho com a representação de vacinas no Brasil, muitas prefeituras do Brasil inteiro, até estados, começaram a procurar a Davati para resolver a questão da falta de vacina”, explicou.
Ele disse que foram realizadas negociações com quatro consórcios de prefeituras, além do governo de Minas Gerais e do governo federal.
O representante minimizou referências feitas à primeira-dama Michelle Bolsonaro em conversas registradas no telefone celular de Dominghetti. “Se criou um folclore sobre as pessoas envolvidas. E ainda tem um folclore sobre as pessoas envolvidas. Um é o CEO, o outro é a Michelle, o presidente”, afirmou Carvalho.
Reverendo Amilton e Élcio Franco
Carvalho disse que a primeira vez que esteve no Ministério da Saúde foi em março de 2021, levado por Dominghetti e pelo reverendo Amilton, que negociavam a venda de vacinas.
Ele relatou que o coronel da reserva Helcio Bruno, do Instituto Força Brasil, teria conseguido uma reunião no Ministério da Saúde com Élcio Franco, ocorrida no dia 15 de março.
Carvalho assegurou que antes dessa reunião, ele nunca havia negociado com o Ministério da Saúde, e disse que sempre se manteve “incrédulo da situação da venda”.
O áudio de Luís Miranda
Carvalho disse que encaminhou a Dominghetti o áudio de uma conversa com o deputado Luís Miranda (DEM-DF), mas que se assustou quando o PM mostrou o conteúdo da mensagem à CPI.
Durante seu depoimento, no dia 1º de julho, Dominghetti exibiu o áudio de Luís Miranda, sugerindo que deputado mencionava indícios de irregularidades no contrato de compra da vacina indiana Covaxin, numa tentativa de associá-lo às suspeitas envolvendo a negociação da Davati.
Contudo, Dominghetti foi rapidamente desmentido, uma vez que a conversa de referia à aquisição de luvas.
Carvalho disse que enviou o áudio a Dominghetti, mas negou que o deputado estivesse se referindo a vacinas. A conversa se deu com um parceiro de Carvalho, que negociava a venda de luvas.
Os senadores queriam saber se Carvalho teria orientado Dominghetti a depor na CPI com a intenção de prejudicar Luís Miranda e desacreditar a denúncia do deputado sobre irregularidades na compra da Covaxin.
“Eu estava assistindo à oitiva dele aqui e, vou ser bem sincero para o senhor: quando ele estava aqui no meu lugar, quando ele puxou o celular, colocou o áudio e apontou o deputado, eu juro que eu quase tive um infarto porque eu falei: não tem nada a ver”, disse o representante.
Ele disse que imediatamente enviou mensagem para o PM dizendo que ele havia se equivocado. “Dominghetti, esse áudio do Luiz Miranda não se refere a vacinas”, afirma a mensagem enviada durante a sessão.
“Eu acredito que ele fez o juízo errado, um pré-juízo, um prejulgamento do Deputado Luis Miranda, porque, em momento algum, eu pedi ou solicitei que ele reproduzisse aquilo na CPI, mas também tive informações da imprensa, que esmiuçou o caso, de que ele havia passado esse áudio para várias outras pessoas. Aí eu não sei se tinha alguma outra pessoa que o orientou a fazer isso, mas eu não o orientei”, assegurou.