A realidade, mais talvez que qualquer outra coisa, tem o dom de deixar a esquerda brasileira fora de si. A realidade atrapalha o tempo todo, revela mentiras e, sobretudo, não vai embora quando é ignorada – simplesmente continua onde está, façam o que fizerem. Acontece o tempo inteiro e, é claro, tem de acontecer muito nas campanhas eleitorais. Está acontecendo de novo, na presente campanha de Lula para voltar à Presidência da República.
Os fatos são bem simples. Você se lembra do imposto sindical que ficou pagando durante anos a fio, não lembra? Foi uma das piores modalidades de extorsão jamais inventadas contra o trabalhador neste país, com o roubo anual de um dia de salário de cada brasileiro, e sua entrega de presente para os sindicatos. Essa praga foi eliminada cinco anos atrás, numa das realizações mais notáveis do governo Michel Temer e do Congresso Nacional, dentro da reforma maior da legislação trabalhista – o principal passo para a modernização das relações de trabalho dos últimos 80 anos no Brasil. Ficou assim, então. Em 2017, último ano em que o imposto sindical foi cobrado, os sindicatos enfiaram no bolso R$ 3 bilhões, arrancados diretamente do esforço de quem trabalha. De lá para cá, o pagamento passou a ser voluntário. Só paga quem quer, e quem acredita em sindicato; quem não quer não paga. E o que aconteceu? Aconteceu que ninguém pagou mais. No ano passado a arrecadação do imposto sindical caiu para R$ 65 milhões – ou seja, praticamente sumiu.
É uma simetria perfeita. Poucas vezes se viu um benefício financeiro para o trabalhador tão direto como esse. Poucas vezes os sindicatos ficaram tão irados com um prejuízo. Foi automático: quem trabalha gostou e continua gostando, os sindicatos detestaram e continuam detestando. Eis aí exatamente a quantas andam, medindo em dinheiro, o apreço, a simpatia e a solidariedade do trabalhador brasileiro por seus sindicatos; assim que foi permitido pagar ou não, todo mundo sumiu. É esse o valor que dão ao sistema que a esquerda nacional acha essencial para a sua proteção. Realidade é isso.
É óbvio que Lula está querendo exatamente o contrário do que querem os trabalhadores; eles falam com o seu bolso, Lula fala com os seus interesses. Um dos pontos-chave do “programa de governo” de Lula, justamente, é ressuscitar a cobrança do imposto sindical. Trata-se, à sua maneira, de outro ataque frontal às realidades. É um clássico, em matéria de mentira integral: ele diz em público que vai salvar o operário, mas, na vida real, o que quer é tirar o seu dinheiro. É só isso.