Presidente do Haiti é assassinado

O presidente do Haiti, Jovenel Moïse, foi assassinado nesta quarta-feira (07/07) por um grupo armado que invadiu sua casa na capital Porto Príncipe, nas primeiras horas da madrugada.

Moïse, de 53 anos, governava por decreto há mais de um ano, depois que o país não conseguiu realizar eleições, numa crise que levou à dissolução do Parlamento. Não está claro quem está no poder no país atualmente.

No momento, o primeiro-ministro interino, Claude Joseph, fala como líder do país. Ele declarou estado de sítio, garantiu que “a situação de segurança no país está sob controle” e condenou o assassinato, que descreveu como “um ato de barbárie”.

Joseph pediu que o Conselho de Segurança da ONU realize uma sessão para debater a crise e defendeu uma investigação internacional sobre o atentado.

“Peço a todas as forças vivas da nação que nos acompanhem na batalha, que nos acompanhem na continuidade do Estado”, disse o chefe de governo interino.

Didier le Bret, ex-embaixador francês no Haiti, disse à rádio France 24 que a situação política no Haiti, já volátil, ameaça sair totalmente de controle. Um novo primeiro-ministro, Ariel Henry, deveria ter tomado posse nesta quarta-feira. Segundo o diplomata, como isso não aconteceu, não está claro quem está dirigindo o país.

“Este crime representa risco de instabilidade e espiral de violência. Os autores deste assassinato devem ser encontrados e levados à justiça”, escreveu Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE, no Twitter. 

A primeira-dama, Martine Moïse, também foi baleada no ataque e está recebendo atendimento médico. Seu estado de saúde não está claro, e mais detalhes sobre o atentado não foram divulgados.

Crise constante

O Haiti tem uma longa história de ditaduras e golpes de Estado, e a democracia nunca se estabilizou completamente.

O país vive uma forte crise política desde meados de 2018 e enfrentou seu momento mais grave no último dia 7 de fevereiro, data em que Moïse denunciou que a oposição, com o apoio de juízes, tramava um golpe contra ele.

Ao mesmo tempo, o Haiti atravessa uma profunda crise de segurança, agravada desde o início de junho pelas lutas territoriais entre organizações criminosas que disputam controle dos bairros mais pobres de Porto Príncipe.

Depois de ter “soldados da paz” destacados no Haiti durante anos, a ONU apenas possui atualmente no país mais pobre da América uma missão de apoio político, encarregada de “aconselhar” e “apoiar” o governo haitiano nos seus esforços para reforçar a estabilidade política e a boa governança. 
 

Temor de anarquia

As ruas de Porto Príncipe permanecem calmas, praticamente vazias, após o assassinato, e a polícia está controlando o acesso ao bairro de Pelerin, onde fica a residência de Moïse.

O país ainda tenta recuperar do devastador terremoto de 2010 e do furacão Matthew, de 2016.

A inflação tem aumentado, e faltam alimentos e combustível. No país de 11 milhões de habitantes, considerado o mais pobre das Américas, 60% vivem com menos de 2 dólares por dia.

A situação levou Moïse a ser acusado de inação e a enfrentar uma forte desconfiança de boa parte da sociedade civil.

Em meio ao temor de anarquia generalizada, o Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos e a Europa apelaram à realização de eleições legislativas e presidenciais livres e transparentes até o final de 2021.

Jovenel Moïse tinha anunciado na segunda-feira a nomeação do novo primeiro-ministro Ariel Henry, precisamente com a missão de realizar eleições no país.

Os principais governos europeus, a UE, os EUA e diversas nações das América condenaram o atentado. A OEA expressou sua “solidariedade ao povo haitiano neste momento difícil” em face desta “tentativa de minar a estabilidade institucional do país”.

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