Mal as tropas americanas tinham se retirado, e as coisas se desenrolaram muito rapidamente. Em poucos dias, o Talibã invadiu uma província após a outra. Como dominós, as capitais provinciais caíram. Milhares de afegãs e afegãos fugiram na esperança de encontrar abrigo seguro na capital, Cabul, – em vão. Agora também Cabul está nas mãos do Talibã.
No Ocidente, as pessoas observam, em parte espantadas e em parte estupefatas, como, dentro de poucos dias, a República Islâmica do Afeganistão é transformada num emirado islâmico. Recebo repetidamente mensagens e telefonemas de conhecidos e colegas expressando sua solidariedade. Um colega da redação árabe da DW diz não saber exatamente por que, mas o que está acontecendo o afeta incrivelmente.
A grande mentira da missão no Afeganistão
A razão pela qual muitos estão chocados é que estão começando a perceber que seus governos não invadiram o Afeganistão 20 anos atrás para defender os direitos humanos, mas somente por interesses políticos.
Como os interesses políticos mudaram, uma vez que o cálculo do custo-benefício não funciona mais, eles querem sair do país – e o mais rápido possível. Era tudo uma grande mentira. Direitos humanos? Direitos da mulher? Democracia? Deixe os afegãos resolverem isso por si mesmos, disse recentemente o presidente americano, Joe Biden. Ele disse que não passaria a missão, que foi liderada por quatro presidentes sucessivos dos Estados Unidos, a um quinto.
O que ele deixa de mencionar é que os EUA invadiram o Afeganistão em outubro de 2001 não apenas para combater o Talibã e a Al Qaeda. Eles prometeram ao povo afegão que iriam democratizar o país. Um dos principais argumentos para a ocupação era a proteção dos direitos das mulheres afegãs. Agora, quase 20 anos depois, fica claro que nunca se tratou das mulheres ou de democracia. Era tudo uma retórica vazia.
As mesmas mulheres que foram aplacadas quando alegadamente se levantaram com demasiada veemência por seus direitos e a quem foi prometido que a democracia e o Estado de direito sempre venceriam no final são agora jogadas de volta à escuridão de 20 anos atrás. Elas foram traídas e vendidas. Muitas ativistas dos direitos das mulheres temem por suas vidas.
A mesma hipocrisia pode ser vista na política de refúgio da União Europeia (UE) e da Alemanha. Afegãs e afegãos estão fugindo de seu país de origem há muitos anos. Não é fácil para ninguém deixar sua terra natal. Eles fogem porque a situação de segurança no Afeganistão foi se deteriorando cada vez mais.
Refugiados precisam ser acolhidos
Tudo isso foi ignorado. O Afeganistão foi classificado como “seguro”. Muitos refugiados foram deportados, outros apenas tolerados. Milhares de afegãos vivem sob condições desumanas na Grécia, Turquia ou nos Bálcãs. Os políticos da UE se recusaram a reconhecer que a situação de segurança no Afeganistão era desoladora, que a intervenção havia falhado.
Agora, quando é tarde demais, eles se mostram chocados – os políticos, a mídia e os acadêmicos. No entanto, países como a Alemanha têm uma responsabilidade. Em vez de apoiar senhores da guerra e políticos corruptos durante anos, eles deveriam ter se dedicado seriamente ao povo afegão e à sua cultura. Deveriam ter escutado as mulheres em vez de apaziguá-las. Em vez de construir um exército, deveriam ter trabalhado com o povo para criar uma perspectiva para o país.
E agora? Os Estados ocidentais da comunidade internacional devem acolher os refugiados afegãos o mais rápido e sem burocracia possível. E eles deveriam finalmente reconhecer aqueles que esperam por uma decisão nos países da UE, às vezes sob condições deploráveis. O mesmo vale para os que virão nos próximos meses e anos do país destruído que o Ocidente deixou para trás. Isso é o mínimo que a Europa pode fazer pelo povo do Afeganistão.
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A jornalista Waslat Hasrat-Nazimi fugiu do Afeganistão para a Alemanha com a família quando criança e hoje é chefe da redação afegã da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, e não necessariamente do G7.