Milton Ribeiro não pretende deixar o cargo

Ministro da Educação afirma que não será afetado por pressões políticas

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse nesta quarta-feira, 23, em entrevista concedida ao programa Os Pingos nos Is, da rádio Jovem Pan, que não pretende deixar o cargo. “Devo respeito ao presidente da República”, justificou. “Não sairei por pressões políticas. Querem associar os evangélicos, uma base de sustentação do governo, com o que há de mais horrível na administração pública: o desvio de dinheiro.”

Mais cedo, reportagens mostraram supostas interferências de dois pastores evangélicos no processo de liberação de recursos do Ministério da Educação (MEC). Os líderes religiosos seriam próximos de Ribeiro e teriam a responsabilidade de levar ao MEC as demandas de municípios por verbas e obras. O chefe da pasta, porém, nega as denúncias.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

— Qual a relação do senhor com os pastores que foram mencionados nos áudios vazados nesta quarta-feira?

Convivi com esses pastores durante quatro viagens. Nunca vi nada de diferente em nenhum deles. No entanto, quando recebi uma denúncia anônima sobre esses pastores, a respeito de possíveis práticas não republicanas, imediatamente procurei a Controladoria-Geral da União [CGU]. Notifiquei a CGU sobre essas denúncias, pedi que uma investigação fosse realizada.

— Esses pastores são donos de um “gabinete paralelo” dentro do MEC?

Não. Comigo aqui, nunca. Isso é uma pecha que puseram no Ministério da Educação. Para comprovar isso, basta ver o número de encontros que realizei com aqueles pastores. De 48 visitas feitas pelo Brasil, participaram de nove.

— O senhor pensa em se afastar do cargo, em razão das críticas?

Não considero essa hipótese. Devo respeito ao presidente da República, o dono do cargo — em termos de gestão e administração. Ele, a qualquer hora, pode pedir minha retirada. Mas não sairei por pressões políticas. Querem associar os evangélicos, uma base de sustentação do governo, com o que há de mais horrível na administração pública: o desvio de dinheiro. Não admito isso. Quem me conhece, sabe o que penso a respeito disso.

— O senhor vê algum envolvimento do “centrão” nessa denúncia?

Não, porque acredito na seriedade e lealdade de pessoas como Ciro Nogueira [PP]. O Marcelo Lopes da Ponte, presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação [FNDE], responsável por destinar as verbas para os municípios, está revolucionando a pasta. Ele é sério e competente. Assim que cheguei ao MEC, perguntei aos assessores quantas obras estavam paradas no Brasil. Eram mais de 4 mil, apenas de responsabilidade do MEC. Em minha gestão, mais de 1,7 mil obras foram concluídas. E Marcelo foi o grande incentivador desse processo.

— Como é a relação do MEC com os diferentes grupos religiosos?

Desde minha posse, enfatizo a laicidade do Estado. Isso é um dos tópicos mais importantes para mim. Desafio alguém a provar que favoreço determinada igreja ou pastor. Como ministro de Estado, preciso atender a todos. Quando recebi aqueles pastores, foi com esse intuito. Já recebi diversos líderes religiosos e ateus.

— O senhor conversou com o presidente Jair Bolsonaro sobre o caso?

Falei com o presidente logo depois de o áudio ser vazado. Ele me ligou e disse que não percebeu, naquele áudio, evidência de corrupção. Todos os pastores sabem que a construção de um templo evangélico depende da autorização dos prefeitos, de alvarás. Jamais reuniria um grupo de prefeitos para pedir que ajudassem na construção de templos religiosos. Posso ser inexperiente, mas jamais faria algo assim. Disseram ainda que eu levava comigo, em voos oficiais, os pastores. Isso é um vilipêndio. Nunca fiz isso, porque é vedado ao ministro levar em sua comitiva alguém externo ao governo.

— A denúncia pode afetar o presidente Jair Bolsonaro?

A mídia mais torta procura fazer uma conexão desse caso com o presidente da República. E a oposição está desesperada com a subida extraordinária de Jair Bolsonaro nas pesquisas eleitorais. Essas pessoas levaram o país à situação em que estamos. Agora, estamos tentando reconstruir a educação brasileira. A escolha equivocada de pedagogia levou o Brasil às últimas posições nos certames de avaliação internacional. É isso que estamos procurando reparar.

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