O Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) anunciou nesta quarta-feira (16) a manutenção da taxa de juros do país entre 0% e 0,25%, como era amplamente esperado pelo mercado. A decisão foi unânime, e a instituição reforçou que está comprometida em usar todas as ferramentas para apoiar economia.
O Fed anunciou ainda que continuará a comprar pelo menos US$ 80 bilhões por mês em treasuries e US$ 40 bilhões por mês em mbs até que o “progresso substancial adicional” seja feito em direção ao pleno emprego e à estabilidade de preços.
De acordo com a instituição, os indicadores de atividade econômica e emprego se fortaleceram em meio a progresso de vacinação contra a Covid-19, mas os setores mais afetados seguem fragilizados.
O Fed ainda elevou os juros sobre as reservas excedentes e acordos de recompras de reversa em 5 pontos básicos cada a partir de 7 de junho.
Alta de juros em 2023
O Fed apresentou ainda nesta quarta suas projeções para os primeiros aumentos das taxas de juros pós-pandemia em 2023, citando uma melhoria na situação sanitária e deixando de lado uma referência de longa data de que a crise estava pesando sobre a economia.
As novas projeções apontam para uma maioria das 11 autoridades do banco central programando um aumento de pelo menos dois quartos de ponto percentual nas taxas de juros para 2023, mesmo com as autoridades, em comunicado, prometendo manter a política de apoio por enquanto para encorajar uma recuperação contínua dos empregos.
“O progresso na vacinação reduziu a disseminação da Covid-19 nos Estados Unidos”, disse o banco central dos EUA em um comunicado após sua última reunião de política monetária, uma mudança substancial para uma instituição que condicionou a política monetária ao longo dos últimos 14 meses no combate à pandemia.
O mercado estava na expectativa para a chamada “super quarta”, dia em que Brasil e Estados Unidos coincidem na divulgação de decisões sobre a política monetária. No caso dos EUA, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Fed, manteve inalterada a taxa de juros, na faixa de 0% a 0,25% ao ano.
Enquanto os juros se mantiverem baixos e os EUA continuarem com o pacote de estímulos econômicos, os ativos de risco permanecem atrativos por terem uma rentabilidade maior do que dos títulos americanos.
Dessa forma, qualquer indicação de menos dólares no mundo — ou seja, corte no pacote de estímulos (Quantitative Easing ou QE) — significa possível valorização da moeda americana no mundo, com consequências por aqui no Brasil. Vale lembrar que o valor do dólar no país também éinfluenciado por fatores internos, como avanço ou retrocesso das reformas econômicas tidas como essenciais.
A expectativa com a divulgação do Fed hoje se justifica pelo combo, lá nos Estados Unidos, de inflação subindo, com crescimento econômico acima do esperado, turbinados por uma montanha de trilhões de dólares que o governo norte-americano não para de jogar em incentivos sobre a economia, que não demorou para acender os alertas. Para este ano, por exemplo, já é consenso que inflação dos EUA deve passar com folga dos 2% de referência e ficar acima dos 3%.
O receio é que a economia americana superaqueça demais e desande para um cenário de inflação fora do controle que poderia trazer lembranças dos anos de “estagflação” que o país viveu na década de 1970.
Além disso, juros mais altos melhoram os rendimentos de títulos e outros investimentos em renda fixa e tendem a tirar o dinheiro de investimentos na economia real e de ativos de mais risco, como a bolsa de valores. E caso a subida de juros seja em uma economia do tamanho dos EUA, e em dólar, a bagunça toma proporções globais.
Por aqui, espera-se para o fim da tarde a divulgação do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), da nova taxa básica de juros, a Selic. Economistas e analistas apostam em uma alta de 0.75 ponto percentual na taxa, que hoje está em 3,5% ao ano. Mas há grupos que aguardam um aumento maior.
Para o fim do ano, as previsões do mercado para a alta da Selic só sobem, acompanhando o movimento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado para medir a inflação oficial no Brasil. A mediana das estimativas no Boletim Focos, que reúne as 100 principais instituições, saltou de 5,75% ao ano para 6,25% nesta semana. Já tem gente, porém, esperando que a taxa chegue a 7% no fim do ano.
No início do mês, o mercado foi surpreendido com uma alta de 8,06% no IPCA de maio, a maior para o mês de maio desde 1996. O número fica bem acima do teto da meta de 5,25% previsto para este ano. O centro da meta fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3,75% e tem uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Em meio a esse cenário, a expectativa do mercado para a inflação de 2021 teve sua décima alta seguida na segunda-feira, com a mediana das projeções apontando para os 5,82%.
Com reportagem de Juliana Elias e Ligia Tuon, do CNN Brasil Business, em São Paulo e Reuters.