Com uma dívida de 220 milhões, sobrinho de Zeca Lopes acusado de estupro de vulnerável está a beira da falência

Um frigorífico à beira da falência, com uma dívida de R$ 220 milhões com a União, e outro em situação aparentemente saudável, que em sua página se gaba de ser o terceiro maior grupo frigorífico do Brasil. O que ambos têm em comum? Funcionam no mesmo endereço, em São Gabriel do Oeste, cidade a 137 quilômetros de Campo Grande.

Enquanto o Boibras, frigorífico conhecido em Mato Grosso do Sul pelos açougues Big Beef e as carnes premium Nobratta (vendidas na rede Comper), enfrenta uma recuperação judicial com dívidas de
R$ 55 milhões a pecuaristas, ex-funcionários e bancos, além dos R$ 220 milhões que deve à União, o frigorífico da BMG Foods, com unidades em vários estados brasileiros e atualmente atrás apenas dos gigantes JBS e Minerva no volume de abate de bovinos, está em ascensão.

O endereço de ambos é praticamente o mesmo. O número deles no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), porém, é diferente. Os abates de ambos os frigoríficos ocorrem na mesma estrutura, e, formalmente, o endereço só não é idêntico porque o frigorífico Boibras está localizado no km 606 da BR-163, enquanto a BMG Foods está no km 606 da BR-163, nas salas 1, 2 e 3.

Mas as coincidências não param por aí. Os controladores de ambos os frigoríficos, que funcionam na mesma planta, têm um histórico de sonegação, sobretudo com o Fisco federal.

GRUPO TORLIM
Enquanto Régis Luis Comarella sobrinho de Zeca Lopes, dono do Boibras, é acusado de sonegar valores milionários pelo Ministério Público Federal (MPF), o nome por trás da BMG Foods é Jair Antônio de Lima, que, na década de 2000, ficou amplamente conhecido não apenas por seu trabalho no ramo de carne bovina, mas também por acusações de sonegação fiscal.

Em 2004, Lima era um dos controladores do grupo Torlim, que detinha vários frigoríficos e gigantescas fazendas de gado em vários estados brasileiros. Só da Previdência Social, à época, o grupo teria sonegado ao menos R$ 70 milhões.

Por causa das acusações da Polícia Federal de emissão de notas frias, contrabando de gado paraguaio e uso de laranjas, o grupo Torlim chegou a ter bloqueadas 17 fazendas e dezenas de caminhões e caminhonetes.

A operação do grupo Torlim que continuou ativa foi a paraguaia, que agora tem um nome muito conhecido no mercado: Frigorífico Concepción. A planta hoje é uma das maiores exportadoras de carne bovina do país vizinho.

No Brasil, a operação frigorífica de Jair Lima voltou em 2021 como BMG Foods. No site da empresa, a descrição da BMG Foods é a seguinte: “Nascida do grupo Concepción – um dos maiores frigoríficos do Paraguai, com mais de 27 anos de história –, a BMG Foods chegou ao Brasil em 2021. Em pouco tempo, consolidou-se como uma das principais produtoras e exportadoras de carne do País”.

Jair Lima não aparece diretamente como dono da BMG Foods no quadro societário. A empresa pertence à BFC-USA LLC, sediada em Miami, nos Estados Unidos, e a Douglas Augusto Fontes França.

O dono do grupo Torlim, contudo, é um dos proprietários da empresa localizada nos Estados Unidos, conforme indicam documentos do estado norte-americano da Flórida, aos quais o Correio do Estado teve acesso.

PARADOXO
Enquanto uma das empresas que atua na planta em São Gabriel do Oeste vai de vento em popa, a outra padece e tenta negociar com credores. No Boibras, o plano de recuperação judicial tem previsão de estender o pagamento de dívidas até a próxima década.

Recentemente, a Justiça Federal havia bloqueado R$ 151 mil da conta do frigorífico em recuperação judicial, mas o juiz da Vara Regional de Falências de Campo Grande, José Henrique Neiva de Carvalho Silva, atendeu aos pedidos do administrador da recuperação judicial, José Eduardo Chemin Cury, e dos advogados do frigorífico Boibras, Lucas Mochi e Rodrigo Pimentel, e desbloqueou os valores.

CASO CIELO
Em tempos de recuperação judicial, o Boibras enfrenta na Justiça embates por quantias em dinheiro. Em um caso ainda sem resolução, a Cielo S. A., empresa de pagamentos que tem entre seus maiores sócios o Banco do Brasil e o Bradesco, queixa-se de um bloqueio judicial de pouco mais de R$ 1 milhão, que teria sido transferido à empresa em recuperação sob o argumento de que a Cielo estaria retendo o valor.

A empresa de pagamentos tenta demonstrar por recibos, e agora quer a realização de uma perícia, que a quantia milionária já está há muito tempo em uma das contas da Boibras.

CASO ZECA LOPES:

STJ mantém investigação contra Zeca Lopes por sonegação de R$ 113 milhões de frigoríficos em MS.
Dono de frigorífico do MS é condenado à prisão por estupro de duas meninas.

fonte: Correio do Estado

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