BRICS é fundamental para futuro presidente do Brasil em novo eixo econômico global, diz especialista

A cerca de quatro meses das eleições presidenciais que vão selar o destino do Brasil, os olhos do mundo se voltam para o país na expectativa de saber quais rumos serão adotados pelo novo chefe do Executivo, principalmente no que se refere ao mercado externo e às relações políticas.

Isso inclui, por extensão, a inserção do Brasil no BRICS, grupo que reúne o maior país da América do Sul além de Rússia, Índia, China e África do Sul.

Recentemente, o vice-chanceler russo Sergei Ryabkov declarou que os países-membros estarão no centro de uma nova ordem mundial.

Embora os laços tenham se fortalecido nos últimos anos, como ficará o agrupamento de países diante das eleições de 2022, sobretudo diante das pressões ocidentais relacionadas à operação militar especial da Rússia na Ucrânia?

A Sputnik Brasil conversou com o professor de relações internacionais Charles Pennaforte, da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), na tentativa de entender como o próximo presidente, independentemente do nome escolhido pelo povo, deve se comportar em relação ao BRICS a partir de 2023.

Pressão ocidental entra na equação do BRICS?

Na avaliação de Pennaforte, os movimentos dos Estados Unidos e da União Europeia (UE) — a partir do envio de pacotes militares bilionários para a Ucrânia, sanções econômicas pesadas contra o Kremlin e até mesmo um discurso russofóbico — não devem interferir nas relações do Brasil com o BRICS.

De acordo com ele, a maior pressão foi feita pelos EUA no âmbito internacional. Já a União Europeia não tem uma política externa própria para os grandes temas internacionais, pois sempre está a reboque de Washington.

“Em relação ao Brasil também sofremos algum tipo de pressão, mas que não possui muita efetividade em função de o nosso governo nunca ter tido uma posição pró-Biden desde as últimas eleições dos EUA. Acredito que a posição brasileira foi correta: o conflito da Ucrânia é regional e foi transformado em global pela atuação dos EUA e da UE. A argumentação utilizada por Washington e Bruxelas é extremamente cínica: apoiam governos que violam os direitos humanos de maneira sistemática, como, por exemplo, a Arábia Saudita, e nunca pensaram em um bloqueio similar contra Riad”, criticou.

Pennaforte sublinhou ainda que o BRICS terá um papel de fundamental importância para o Brasil a partir de 1º de janeiro de 2023 — quando o próximo presidente começará (ou o mesmo continuará) a exercer seu mandato.

“É um atalho para o protagonismo brasileiro no cenário global ao lado de outros parceiros que terão papel importante no século XXI. Mesmo o governo de Jair Bolsonaro [PL], que iniciou com um discurso ambíguo contra o BRICS mas foi obrigado a mudar sua posição diante dos fatos econômicos”, avaliou.

A julgar pelo que mostram pesquisas de intenção de voto divulgadas nesta semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode se eleger em primeiro turno e superar Bolsonaro, seu principal adversário na atual seara política nacional.

O professor aponta que caso a vitória seja dessas forças políticas do espectro de esquerda e centro-esquerda capitaneadas por Lula, certamente o BRICS terá uma nova retomada. Isso reflete diretamente em sua condução das relações com o grupo.

“Na minha concepção estamos vivendo grandes transformações sociais, políticas e econômicas que não passarão mais pelo mundo euro-atlântico”, afirmou.

Novo eixo econômico

A partir daí, Pennaforte avalia a formação de um novo eixo econômico impulsionado pela China.A participação do gigante asiático, sendo uma das principais economias do mundo, por si só já garante ao BRICS um papel de destaque.

“A Rússia com a sua retomada como player global no início do século XXI e compartilhando com os seus membros uma visão multipolar, a mesma da China, garante melhores posições nas discussões da agenda global. Estamos vivendo um momento de transição global, e o novo eixo econômico não será mais o mesmo dos últimos 200 anos. O Brasil deve se preparar para isso, e o BRICS é a melhor forma para esperar essa mudança”, enfatizou.

Sob o ponto de vista estratégico, prossegue ele, a ampliação das relações entre os países-membros do BRICS é muito importante.Isso porque aglutinar países com a mesma visão de mundo multipolar e sob condições econômicas mais justas é a melhor forma de se adaptar à nova ordem econômica que está surgindo.

“Na minha visão é importante aceitar novos membros e, assim, ampliar a força do BRICS como uma nova liderança não só econômica como política. Que os novos membros entrem como ‘associados’ e dinamizem o processo de trocas. Vale ressaltar que as assimetrias existentes são fatores importantes para dificultar o avanço do BRICS como uma nova força geopolítica e econômica. Contudo é possível ajustar agendas nos temas mais importantes e de consenso. Cabe aos líderes facilitar esse processo”, concluiu.

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