Alvo de um pedido de prisão preventiva expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o jornalista Allan dos Santos, do canal Terça Livre, classificou a medida como mais um episódio de uma “perseguição abjeta” contra vozes conservadoras e mais alinhadas ao governo do presidente Jair Bolsonaro. O jornalista, que está nos Estados Unidos, foi entrevistado na edição desta quinta-feira, 21, do programa Os Pingos nos Is, da rádio Jovem Pan.
Segundo a decisão de Moraes, o Ministério da Justiça deve iniciar imediatamente o processo de extradição do jornalista. O magistrado determinou ainda que a Polícia Federal (PF) inclua o mandado de prisão na lista da Difusão Vermelha da Interpol para garantir que Allan seja capturado e retorne ao Brasil. A embaixada dos Estados Unidos também foi acionada.
Estratégia de defesa
Indagado se pediria asilo político para algum país, Allan dos Santos preferiu não antecipar os próximos passos, que serão definidos conjuntamente com seus advogados. “Todos os passos jurídicos que eu vou dar a partir de hoje não serão publicizados”, afirmou. “Quanto mais erros eles cometem, mais eu posso provar que eles estão fazendo uma perseguição pura e simples. Abjeta, inclusive. Não vou dizer a eles quais serão meus próximos passos.”
Allan disse confiar que a Interpol não acolha o pedido de Moraes. “Há casos recentes provenientes de Venezuela, China, Equador, e a Interpol não aceitou. Até agora, o que nós temos é o Alexandre de Moraes pedindo ao Ministério da Justiça e à Interpol para que o desejo dele seja concluído. Existe um abismo até aí. Ainda existem leis e instituições que querem proteger os direitos fundamentais e a liberdade de opinião”, disse o jornalista.
“A lei, nada mais. Não quero que a minha vontade seja estabelecida dentro da República. Quero que a lei seja aplicada. Que sejam apresentadas provas dentro de um processo. Que usem todo o ordenamento jurídico brasileiro para isso”, prosseguiu Allan dos Santos.
Perseguição
Segundo o jornalista, há uma evidente perseguição do Judiciário brasileiro contra um determinado grupo do espectro político-ideológico. “Nós não podemos permitir que um grupo seja selecionado para ser perseguido. Que um tipo de jornalismo não possa existir. Que um tipo de crítica não possa existir”, disse.
Allan dos Santos afirmou ainda que, até o momento, não recebeu nenhuma notificação oficial sobre o pedido de prisão. “Só fiquei sabendo por causa da imprensa. Até que eu realmente possa saber, por um documento, se a Interpol vai aceitar ou não esse pedido, qualquer decisão que eu tomar vai ser muito tranquila, com a consciência tranquila de um jornalista que exerce a profissão”, afirmou. “Não sei o motivo ainda [do pedido de prisão]. É tudo aquela narrativa de gabinete do ódio, que já foi devidamente respondida nas redes sociais. A decisão é esta: ‘ele falou algo que eu não gostei e, por isso, eu vou prendê-lo’.”
Vazamentos e violação do sigilo de fonte
Na entrevista, Allan dos Santos foi indagado pelo jornalista Augusto Nunes, colunista da Revista Oeste, sobre a violação do sigilo constitucional de fonte. Trata-se do caso envolvendo Tatiana Garcia Bressan, de 45 anos, que trabalhou por 18 meses no gabinete do ministro Ricardo Lewandowski, do STF.
Reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo acusou Allan de usar Tatiana como informante. A troca de mensagens entre eles, iniciada em 23 de outubro de 2018 e encerrada em 31 de março de 2020, foi coletada pela PF.
“Não tenho a mínima ideia de como isso chegou [à Folha]. Só sei que é crime esse tipo de vazamento dentro da Polícia Federal. Isso tem acontecido com recorrência em vários órgãos de Estado”, criticou Allan. “Esses órgãos acham que alguém que simplesmente estava conversando com uma secretária estaria praticando exatamente o que os jornais estão praticando ao divulgar isso. Eles atribuem a mim exatamente o que eles fazem.”