O ‘fique em casa’, em decorrência da pandemia de covid-19, agravou a fome no Brasil e aumentou em 50% o número de brasileiros que não têm o que comer. Atualmente, são pouco mais de 33 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave. (Em 2020, eram 14 milhões de brasileiros.)
Seis em cada dez domicílios não conseguem manter acesso pleno à alimentação e possuem alguma preocupação com a escassez de alimentos no futuro, sendo as regiões Norte e Nordeste as mais impactadas.
Os números foram revelados nesta quarta-feira, 8, pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os indicadores da insegurança alimentar vinham piorando no país havia pelo menos nove anos, mas a pandemia deixou a situação ainda mais dramática.
O estudo revelou que quase 60% da população brasileira convive com algum tipo de insegurança alimentar em grau leve, moderado ou grave (de fome total).
Em números absolutos, são 125 milhões de brasileiros nessas condições, aumento de 7% em relação a 2020, no início da pandemia de covid-19.
“As evidências revelam um preocupante agravamento insegurança alimentar em um contingente expressivo da população brasileira, iniciado pela crise econômica e pela desestruturação de políticas públicas nacionais, desde 2016, e acentuado pela pandemia de covid-19”, avaliaram os pesquisadores.
País voltou à década de 1990
Segundo o estudo, o país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990.
Os dados da pesquisa foram coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, com entrevistas em mais de 12 mil residências brasileiras, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios brasileiros.
Norte e Nordeste são as regiões mais impactadas
De acordo com o estudo, Norte e Nordeste do país são as regiões mais impactadas. Nesses locais, os índices de insegurança alimentar chegam a 70%.
A fome fez parte do dia a dia de 25% das famílias na região Norte e de 21% no Nordeste. A média é de aproximadamente 15% no Sudeste e 10% no Sul.
A fome no campo
O mesmo agravamento é percebido quando se comparam o campo e a cidade. Nas áreas rurais, a insegurança alimentar, em todos os níveis, esteve presente em mais de 60% dos domicílios. Até quem produz alimento está pagando um preço alto: a fome atingiu 21% dos lares de agricultores familiares e pequenos produtores.
“Tendo como referência o contexto da crise sanitária que assolou o país a partir do início de 2020, a situação foi agravada pelas dificuldades de recomposição das rendas do trabalho em emprego formal ou informal, de retomada de negócios e de atividades produtivas, em particular no meio rural”, apontou o documento.