David Petraeus, o general aposentado do Exército dos EUA que comandou as forças da OTAN no Afeganistão e as forças americanas no Oriente Médio, reiterou que Washington vai lamentar sua decisão de acabar com a ocupação.
“Receio que vamos olhar para trás e lamentar a decisão de retirada, e acho que nós poderemos lamentar ainda mais cedo do que eu tinha pensado inicialmente”, disse no domingo (18) à emissora CNN Petraeus, conhecido pela implementação da estratégia do Pentágono de operações contra insurgentes no Afeganistão e Iraque no fim dos anos 2000 e no início dos 2010.
“O que eu vejo agora, infelizmente, é o início do que será uma guerra civil bastante brutal, considerável deslocamento étnico e sectário, assassinato de funcionários do governo, milhões de refugiados inundando outros países, em particular o Paquistão“, disse ele, adicionando que poderemos ver o retorno da Al-Qaeda (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) e do Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países).
“Nós vamos ver o reestabelecimento do tipo de regime islâmico ultraconservador medieval que era o Talibã [organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países], que governou grande parte do país quando Al-Qaeda planejou os ataques de 11 de setembro em solo afegão”, prognosticou o general.
Caracterizando a situação no país como “cada vez pior”, Petraeus sublinhou que agora os talibãs combatem o Exército do Afeganistão nos arredores de Kandahar, a segunda maior cidade afegã.
Ele continuou sugerindo que os Estados Unidos não “acabaram” com a guerra eterna na República Islâmica com sua retirada, mas apenas o envolvimento americano nesta.
O general aposentado também admitiu que a guerra no país nunca foi sobre “vencer”. Em vez disso, apontou, era sobre “conter” o Talibã e reverter seus avanços, e sobre o treinamento de forças afegãs. Petraeus duvidou que os cerca de 3.500 soldados que os EUA tinham no país antes do começo da retirada em maio deste ano fossem “sustentáveis” em termos de gastos americanos de “sangue e tesouro”.
Os Estados Unidos gastaram mais de US$ 2 trilhões (R$ 10,38 trilhões) com a guerra no Afeganistão, com cerca de 3.500 militares americanos e da coalizão, mais de 4.000 mercenários ocidentais, mais de 100 mil civis afegãos e dezenas de milhares de talibãs mortos no conflito que começou no final de 2001.
A nação tem sido devastada pela instabilidade por mais de 40 anos, com raízes do conflito remontando à Guerra Fria e ao apoio da CIA aos militantes jihadistas que atacaram o governo afegão e seus aliados soviéticos a partir do fim dos anos 1970.