Corrida para Marte e relatório do Pentágono sobre objetos voadores não identificados expõem um lento movimento das agências espaciais para admitir a existência de vida extraterrestre, primeiro de seres microscópicos e, em seguida, de inteligência alienígena
O reconhecimento da existência de vida extraterrestre nunca esteve tão próximo. Se antes o assunto era tratado como piada pela comunidade científica ou como fantasia lunática pela maioria da população, agora começa a ser levado a sério. Não deve demorar muito para a agência espacial americana, Nasa, ou a chinesa, CNSA, confirmar a presença de vida microbiana ancestral em Marte, onde se desenvolve uma espécie de “guerra fria” espacial entre os robôs Perseverance e Zhurong para fazer o anúncio primeiro. Será certamente um momento crucial da história do século 21. Em outra frente de pesquisa que aponta para mundos alienígenas evoluídos, o Pentágono, atendendo a um pedido do Senado, divulgou no fim de junho o relatório mais direto e revelador publicado até hoje sobre OVNIs, chamados de UAPs, sigla em inglês para fenômenos aéreos não-identificados. Com nove páginas, o documento não se refere a seres extraterrestres, mas conclui que alguns fenômenos são inexplicáveis, não se enquadram em nenhum esclarecimento convencional e precisam ser mais bem estudados. Uma parceria entre o Pentágono e a Nasa, que pouco se pronuncia sobre questões ufológicas, acaba de ser fechada com esse objetivo. É a primeira vez que o governo americano faz um documento desse tipo.
Para o ufólogo e escritor Marco Antônio Petit, o relatório indica uma nova postura oficial e faz parte de um lento processo para desvendar gradualmente a existência de vida extraterrestre. Ele vê o documento num contexto geopolítico em que dez missões internacionais ocupam um lugar no espaço hoje em dia e disputam a primazia pelas novas revelações científicas, que estão sendo feitas aos poucos. E, com exceção dos Estados Unidos, só a China tem um projeto independente, sem qualquer tipo de cooperação e com seus próprios objetivos estratégicos. “O relatório do Pentágono é importante porque contribui para a discussão sobre os OVNIs e está dentro daquilo que poderia ser feito neste momento pelo governo americano”, diz Petit. “É um pequeno passo no lento caminho para se admitir a inteligência extraterrestre, que passa também pela admissão da vida microscópica”. Segundo ele, quando o documento diz que não há explicações para determinadas observações ele abre a possibilidade da existência de OVNIs. “Os governantes demoram para aceitar que estamos diante de objetos controlados por uma inteligência superior à nossa”, aposta.
Embora não seja conclusivo, o relatório indica que os estudos de OVNIs se renovam e se tornam um campo de conhecimento promissor. O documento é baseado na revisão de 144 relatos de visualizações feitas por aviadores militares entre 2004 e 2021, principalmente nos últimos dois anos. De todas as visualizações, a força tarefa do Pentágono só deu explicação para uma, que se tratava de um balão vazio. As demais não têm qualquer esclarecimento. Para classificar os UAPs, cinco possibilidades são estabelecidas: confundidores aerotransportados, que podem ser pássaros ou balões, fenômenos atmosféricos naturais, programas de desenvolvimento da indústria, sistemas adversários estrangeiros e outros. Na conta do “outros” podem ser colocados objetos extraterrestres, com capacidade de manobra, aceleração e velocidade inalcançáveis com tecnologias existentes na Terra.
O debate sobre OVNIs ganhou um novo impulso no final de maio, um mês antes do relatório do Pentágono, quando o ex-presidente Barack Obama chamou atenção para o assunto no programa de TV The Late Late Show. Na entrevista, Obama primeiro brincou e disse que “em se tratando de alienígenas, há algumas coisa que simplesmente não podemos contar no ar”. Depois, falando sério, admitiu “que há filmagens e registros de objetos nos céus que não sabemos exatamente o que são. Não podemos explicar como eles se moviam, sua trajetória e eles não tinham um padrão facilmente explicável. Acho que as pessoas ainda levam a sério e tentam investigar e descobrir o que é.”
A entrevista reforçou a crença de que alguma revelação está próxima.
Americanos e chineses disputam corrida de robôs para anunciar a descoberta de vida microbiana ancestral em Marte
Nos Estados Unidos, os segredos do governo sobre objetos voadores não identificados despertam grande fascínio na população há décadas. Há uma expectativa permanente de revelação de um grande mistério e uma proliferação de teorias da conspiração. A mais famosa delas está associada à chamada “Área 51”, centro de desenvolvimento e testes de aeronaves localizado no deserto de Nevada, a 53 quilômetros de Las Vegas. Ufólogos alegam que há ali uma espaçonave alienígena que caiu em Roswell, no Novo México, em 1947, além dos corpos de seus pilotos. Na versão do governo americano, não havia alienígenas e a espaçonave era um balão meteorológico. A controvérsia, porém, dura mais de 70 anos. Embora tenha sido inaugurada em 1955, a existência do lugar só foi reconhecida pela CIA em 2013, numa demonstração de que o governo queria manter a base em segredo. Obama foi o primeiro presidente a mencioná-la em suas falas.
No final dos anos 1960, a discussão sobre os OVNIs e a vida extraterrestre ganharam popularidade graças às expectativas geradas pela chegada do homem à Lua e ao livro e ao documentário “Eram os Deuses Astronautas?”, do arqueólogo suíço Erich Von Däniken, que propagou a ideia de que grandes obras da antiguidade só foram possíveis graças à tecnologia transferida por seres de outro planeta que vieram à Terra. Däniken identificou vários objetos arqueológicos ao redor do mundo que poderiam indicar essas visitas alienígenas. No Brasil, o mais famoso evento de observação de OVNIs é a chamada Operação Prato, realizada pela Força Aérea Brasileira (FAB) no Pará, em 1977. No período, foram realizadas duas missões com agentes do serviço de informações e uma equipe médica militar que avistaram objetos luminosos no céu e ouviram relatos de pessoas sobre “ataques de luz” que causavam perfurações no corpo. Os documentos, sobre o caso estão no Arquivo Nacional.
Neste momento, a vida extraterreste é algo que passa a fazer sentido e que pode mudar completamente a forma como o homem se vê no mundo e no universo. Há indicações de que a corrida espacial do século 21 será mais esclarecedora do que a do passado, revisando a singularidade da condição humana e estabelecendo um novo marco civilizacional. O fato é que diante das novas descobertas algumas teorias sobre a existência de alienígenas já não parecem tão absurdas. Talvez esteja chegando o dia em que o governo americano vai reconhecer que fez autópsia em ETs na “Área 51”. Mas, enquanto isso não acontece, a expectativa imediata é a da vida microbiana em Marte, uma descoberta revolucionária. Resta saber quem dará a notícia, americanos ou chineses.