Um promotor da equipe especial da Operação Lava Jato do Ministério Público do Peru solicitou nesta quinta-feira (10/06) a revogação da liberdade provisória da candidata à presidência Keiko Fujimori, além de pedir a prisão preventiva da direitista.
A filha do ex-presidente Alberto Fujimori, que também está preso, aguarda o resultado da apuração das eleições presidenciais no Peru, na qual permanece atrás do esquerdista Pedro Castillo por uma diferença de cerca de 70 mil votos, com 99% das urnas computadas.
Ela é acusada de lavagem de dinheiro, de ter recebido suborno e de se beneficiar de caixa dois nas campanhas eleitorais de 2011 e 2016, quando também tentou se eleger presidente. A direitista já passou mais de um ano presa enquanto as investigações estavam em andamento.
Ela pode vir a ser condenada a 30 anos de prisão por lavagem de dinheiro e financiamento ilegal de campanha, no escândalo que envolve a construtora brasileira Odebrecht.
Em documento enviado a um tribunal, o promotor José Domingo Pérez afirma que Keiko violou restrições impostas pela Justiça de não se comunicar com testemunhas associadas ao caso.
“Determinou-se novamente que a acusada Fujimori Higuchi descumpriu a restrição de não se comunicar com as testemunhas”, diz o pedido do promotor. Ele afirma ser “público e notório” que a candidata se comunica com a testemunha Miguel Torres Morales. Este também é alvo de acusações, e ambos estão proibidos de se comunicar.
Domingo Pérez menciona uma coletiva de imprensa realizada na véspera em que o advogado Torres Morales foi apresentado como porta-voz político da representação jurídica do partido fujimorista Força Popular.
Keiko e Morales estiveram juntos na mesma mesa durante a coletiva, na qual o partido da candidata anunciou que pediu a anulação de 802 atas de votação, representando em torno de 200 mil votos.
Após ser ultrapassada por Castillo na reta final das apurações, Keiko lançou uma série de acusações de fraude no processo eleitoral. Ela apresentou o pedido de anulação ao Júri Nacional de Eleições após denunciar irregularidades, dizendo a repórteres ter evidências de uma “clara intenção de boicotar a vontade popular”.
Com 99% dos votos contabilizados, Castillo lidera a apuração com 50,2%, contra 49,8% de Keiko, o que significa uma diferença de cerca de 70 mil votos. Na noite de terça-feira, o candidato de esquerda se declarou vencedor.
O presidente do Júri Nacional de Eleições, Jorge Luis Salas, expressou surpresa após o pedido de Keiko de anular 802 urnas, ressaltando que nas eleições passadas, de 2016, apenas 29 urnas foram contestadas.
O pedido de revisão dos votos poderá levar cerca de dez dias para ser analisado, fazendo com que a disputa siga em aberto em meio a um clima crescente de incerteza no país. A conclusão da apuração já vinha demorando à espera dos votos de áreas rurais e afastadas, assim como os de peruanos que vivem no exterior.
Eleição mais polarizada da história
Embora as três últimas eleições presidências também tenham tido disputas acirradas, analistas consideram que nunca houve um segundo turno tão polarizado no país quanto o disputado por Keiko e Castillo, e por isso temem distúrbios sociais independentemente de que for o vencedor.
O socialista Castillo, do partido Peru Livre, é um professor de escola primária sem experiência de governo. Filho de camponeses analfabetos, ele entrou para a política ao liderar uma greve de professores. Ele venceu o primeiro turno das eleições, em abril.
Durante a campanha, Castillo propôs abolir o Tribunal Constitucional, controlar a mídia e nacionalizar a indústria de petróleo e gás, com intuito de criar um Estado socialista. Seu discurso ficou cada vez mais moderado nas últimas semanas, mas ele prometeu reescrever a Constituição aprovada sob o regime de Alberto Fujimori.
Keiko disse que perdoará seu pai se ganhar a eleição, saudando o retorno a uma época que muitos peruanos não desejam. “Fujimori anunciou que vai introduzir uma ‘demodura’ ou ‘democracia com mão dura’, governo autoritário com instituições democráticas, exatamente o que seu pai fez”, explica a cientista política peruana Mayte Dongo.
Alberto Fujimori esteve no poder de 1990 a 2000, durante o qual obrigou dezenas de milhares de mulheres indígenas a serem esterilizadas. Atualmente, cumpre pena de 25 anos por autorizar sequestros e assassinatos por esquadrões da morte.