O ano de 2020 foi repleto de desafios para todos, e para o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), não foi diferente. No mês de março do ano passado, 10 dias depois de lançar um dos maiores pacotes de obras da história do Estado, com mais de R$ 4,6 bilhões em investimentos, teve de gerenciar a maior crise sanitária em 100 anos e todas as consequências dela na saúde da população e na economia.
Para este ano, Azambuja é otimista com os fundamentos mantidos durante 2020 e também com a expectativa da chegada da vacina para a Covid-19. O Correio do Estado conversou com o governador e falou sobre as perspectivas para o ano que começa.
CORREIO DO ESTADO: O que a pandemia da Covid-19 mudou no planejamento de 2020? Faça um resumo das mudanças de estratégias e da ação do governo para atenuar os efeitos da chegada do coronavírus.
Reinaldo Azambuja: primeiro eu gostaria de voltar um pouco lá atrás, em 2015, quando nós iniciamos as reformas estruturantes no Estado de Mato Grosso do Sul. Começamos com uma grande reforma administrativa, que nos tornou o estado mais enxuto do Brasil, ao lado de Goiás.
Isso para gastar menos com o próprio governo e poder investir mais na população.
Inauguramos também uma nova forma de governar, pactuando contratos de gestão em todas as áreas e secretarias para colocar foco no mais importante e ter controle sobre os resultados. Na sequência, pactuamos a reforma do teto de gastos com todos os Poderes do Estado.
Depois, implementamos em 2017 uma parte da reforma previdenciária, que foi concluída em 2019.
Revisamos nossa política de incentivos, elogiada em todo o Brasil e modelo para outros estados.
Fizemos uma grande mudança de concepção da área de compras governamentais, estruturando melhor o governo para enfrentar o grande desafio de 2015 e 2016, que foi a maior queda do PIB brasileiro da história recente do nosso País. E não foi diferente para os estados brasileiros.
Tivemos que fazer nossos ajustes e arranjos para manter o Estado solvente, adimplente e cumpridor das suas obrigações com salários de servidores e fornecedores, mas também com capacidade de fazer investimentos. Fizemos tudo isso. A partir de 2018, com a mudança no comando do País e sinais positivos na economia, mudou a perspectiva.
Em 2019 já houve crescimento. A economia de Mato Grosso do Sul cresceu 2,5%, o PIB bem acima do PIB brasileiro, fruto das medidas que tomamos, algumas até impopulares, que permitiram ao Estado seguir em frente sem os grandes problemas enfrentados por outros estados da Federação.
Aí chegou 2020, o ano da pandemia, extremamente difícil: ninguém esperava e o mundo todo sofreu um impacto forte, negativo, nas áreas da saúde e da economia.
Aqui conseguimos lidar melhor com o problema, justamente pelas medidas tomadas nos anos anteriores.
Com o início da doença no Estado, fomos um dos primeiros a implantar o Comitê de Operações Emergenciais, o COE, que norteou várias de nossas ações.
Lançamos programas inovadores como o Prosseguir e o Rastrear, para dosar distanciamento, cuidados, ampliação de leitos e de estruturas de atendimento ao cidadão e o funcionamento seguro das atividades, para que não caíssemos no caos.
E acho que funcionou bem. Nós somos hoje um dos estados com menos impactos, com um menor número de mortes e geração positiva de empregos.
Os bons resultados, no entanto, não nos permitem deixar de lamentar muito as mais de duas mil pessoas que perderam suas vidas aqui. Mesmo assim, conseguimos agir para que esses números não fossem muito piores, como são em outros lugares.
CORREIO DO ESTADO: Depois do grande susto dos meses de março e abril, em que a atividade econômica ficou comprometida, e também de um outro grande susto agora no fim de 2020, com hospitais lotados e demanda no limite, qual o planejamento para 2021?
Reinaldo Azambuja: A pandemia não acabou.
Estamos vivendo hoje o pico de uma segunda onda de contágio muito grave. Mas agora com uma perspectiva positiva: estamos aos 45 minutos do segundo tempo, como se diz no ditado popular, para a chegada da vacina.
Nas conversas com o ministro da Saúde, tivemos a garantia que o Estado brasileiro está credenciando várias vacinas e esperamos que a imunização em massa comece logo na entrada deste ano. Ainda não temos nenhuma aprovada pela Anvisa, mas muitas estão vindo e com certeza entrarão para o rol de alternativas para a vacinação.
Neste momento, acho que o cuidado é primordial: manter o distanciamento social, isolamento nos casos necessários, o uso das máscaras, álcool, higiene rigorosa, até a vacina chegar e começar a ser aplicada.
CORREIO DO ESTADO: O senhor já afirmou em algumas ocasiões que aguarda o governo federal, mas se o governo não agir, os sul-mato-grossenses terão vacina disponível. Esse plano se mantém?
Reinaldo Azambuja: Todo o Programa Nacional de Imunizações é capitaneado pelo Ministério da Saúde com as vacinas de hoje: hepatite, paralisia infantil, sarampo, tétano, difteria e tantas outras. Tudo isso quem distribui aos estados é o Ministério da Saúde. Mato Grosso do Sul não vai lá e compra a vacina da gripe.
É o Ministério que distribui. E para a Covid-19 eu entendo que também tem que ser no mesmo modelo.
Eu defendo que o Ministério siga o rito do Plano Nacional de Imunizações. Se isso não ocorrer, nós, de Mato Grosso do Sul, temos recursos disponíveis que podem ser utilizados para adquirir a vacina.
Hoje temos perto de R$ 100 milhões disponíveis em uma conta que podem ser usados para adquirir vacinas de qualquer paternidade, seja inglesa, americana ou chinesa.
Pode vir de qualquer lugar, desde que seja aprovada pela Anvisa. Se o Ministério não organizar um plano nacional, vamos criar nossa própria estratégia, com um cronograma que começa pelos grupos prioritários. Não é o ideal. Defendo o Programa Nacional de Imunizações, mas estamos preparados para agir se for necessário.
CORREIO DO ESTADO: Acredita que a vacina é um investimento em termos de liberação da economia?
Reinaldo Azambuja: A vacina é fundamental para salvar vidas, mas também para permitir a retomada plena da economia e a recuperação dos empregos. São aspectos complementares do mesmo problema. Precisamos virar a página da pandemia o quanto antes, para o País voltar a crescer.
CORREIO DO ESTADO: Sobre a geração de empregos, o Estado fecha o ano com saldo positivo. A expectativa para 2021 é ainda melhor? Quais setores seriam os principais?
Reinaldo Azambuja: Somos o primeiro estado em investimento per capita do País. Organizamos uma carteira de investimentos poderosa – mais de R$ 3 bilhões nos próximos dois anos em obras e programas, em todos os 79 municípios. De outro lado, o Estado fez o seu dever de casa e continua multiplicando sua capacidade de atrair investimentos privados.
Mesmo com a pandemia, foram R$ 3,3 bilhões em novos negócios que chegaram em nosso Estado. Tudo isso gerou 11 mil novos empregos. O nosso cenário é muito positivo: os dados dos especialistas nos projetam com a maior taxa de crescimento entre as economias regionais do Brasil, que vai refletir em mais empregos e oportunidades para nossa gente.
É o resultado do enfrentamento de pautas difíceis, mas necessárias. Ou seja, fizemos o dever de casa. Não tenho dúvida de que vamos ter uma mudança de patamar muito importante: muito investimento, muita entrega e muita geração de oportunidade para todos. Isso é um ganho extraordinário para todos que vivem em Mato Grosso do Sul.
CORREIO DO ESTADO: Como fica o programa Governo Presente lançado em março de 2020, dias antes da pandemia?
Reinaldo Azambuja: A carteira do Governo Presente já está acontecendo nas nossas 79 cidades. Somando os investimentos em diferentes anos, serão R$ 4,7 bilhões em obras nos municípios. Recentemente, aqui na Capital, terminamos a Avenida Mato Grosso.
Agora estamos no Aero Rancho e em vários bairros onde têm recapeamento e obras com recursos do governo do Estado. Foi possível ter Copa de Vôlei no Guanandizão porque foi reformado com recurso do governo do Estado.
Temos quatro grandes hospitais regionais sendo feitos. Vamos reformar mais de 120 escolas e abrir várias frentes de obras rodoviárias. Essa retomada da capacidade de investimento faz toda a diferença. Para você ter uma ideia, estamos com licitações na Seinfra praticamente todos os dias, de obras estruturantes para os 79 municípios do Estado.
Todas as obras estão acontecendo, mesmo na pandemia. E agora, junto a isso, vem mais investimento em saneamento, em obras que vão ser tocadas pela PPP da Sanesul. Tudo isso vai transformar Mato Grosso do Sul em um verdadeiro canteiro de obras.
CORREIO DO ESTADO: Em 2021, há a previsão de grandes projetos logísticos do Estado finalmente saírem do papel, como os terminais portuários de Murtinho, Rota Bioceânica, Malha Oeste e Ferroeste?
Reinaldo Azambuja: A Rota Bioceânica vem saindo do papel, passo a passo, há algum tempo, com decisões e investimento nos países que fazem parte do traçado do projeto. Temos convicção que, no ano que vem [2021], o Brasil retoma a parte que lhe cabe e vamos contar com novas e importantes decisões no âmbito da Malha Oeste e Ferroeste. São projetos revistos e já muito consolidados que vão ganhar força no cenário pós-pandemia.
Além da pandemia de coronavírus, 2020 foi um ano marcado mundialmente pelo ressurgimento da necessidade de proteção a minorias e ao meio ambiente. Gostaria que comentasse quais as principais ações do governo na área ambiental, no combate ao racismo (contra negros e índios) e no combate e prevenção à violência contra a mulher.
Um dos aspectos mais difíceis desta pandemia, além da perda de vidas, foi o recrudescimento da pobreza no mundo todo. Quando a economia não pode funcionar a pleno vapor, o impacto é enorme e para todos.
Nesse sentido, precisamos reconhecer como foram valiosos, importantíssimos, os auxílios emergenciais, que supriram renda mínima quando muita coisa parou, inclusive a economia informal. Por isso é tão importante a retomada! Nesse tempo de dificuldades, procuramos tratar com máxima responsabilidade as populações mais vulneráveis, em especial no campo da saúde e da alimentação básica.
No meio ambiente, seguimos com uma pauta muito promissora para tratar em um outro patamar a economia de baixo carbono, e aqui no nosso Estado já temos um papel muito importante, porque somos a maior área e a melhor experiência de integração lavoura-pecuária-floresta.
Na pauta do racismo e da violência contra a mulher, estamos atentos e sempre proativos. Institucionalizamos essas áreas e políticas públicas de combate ao preconceito e à violência, e como sociedade organizada precisamos continuar avançando sempre nessa direção.
fonte: Correio Do Estado