Com a árdua tarefa de tentar contornar os efeitos da “bomba” que o presidente Lula (PT) jogou no mercado financeiro ao abandonar a meta de zerar o rombo nas contas do governo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concedeu uma entrevista coletiva nesta segunda-feira (30).
O evento era para anunciar as indicações de novos diretores para o Banco Central, mas acabou dedicado a limpar a barra do governo ante ao mercado.
Visivelmente irritado, o petista tentou mitigar os efeitos nocivos da declaração de Lula na última sexta-feira (27). O ministro disse que a colocação do presidente apenas representa preocupação com as intempéries que dificultam o êxito da proposta de zerar as dívidas do governo.
Haddad mencionou que uma empresa de cigarros havia vencido uma ação judicial reavendo impostos que não foram pagos por ela, mas repassados ao consumidor. Logo, esse montante deveria ser devolvido a quem, de fato, pagou: o cliente.
Ocorre que a empresa ficará com esse valor para si, já que o pedido foi deferido pela Justiça. Foi quando uma repórter perguntou o nome da referida empresa e Haddad, na defensiva, após tentar duas vezes se esquivar de dizer, respondeu:
– Querida, você… Faz o teu trabalho, é público [o acesso ao documento].
De forma imprecisa e confusa, Haddad tentou explicar o cenário arrecadatório adverso e achou um culpado para os desafios fiscais que ele mesmo não contemplou quando estipulou uma meta tão pretensiosa: o Judiciário.
Segundo o chefe da Fazenda, o desafio é oriundo de uma decisão do STF no ano de 2017, definindo que, ao ser calculado o valor que as empresas teriam de pagar de PIS e Cofins, seria excluído o que elas já haviam pagado de ICMS.
Ele também mencionou como perda na arrecadação o abatimento do imposto de renda de pessoa jurídica e disse que esse valor que deixa de entrar para o governo estava na casa de R$ 144 bilhões e esse ano já está em R$ 200 bilhões.
Questionado se, apesar da fala de Lula, ele manteria a meta de zerar o déficit, Haddad ora ficou nervoso, ora riu e debochou da insistência dos jornalistas, mas não respondeu objetivamente.
– A minha meta está estabelecida. Vou buscar o equilíbrio fiscal de todas as formas justas e necessárias para que tenhamos um país melhor – disse.
O petista terminou a entrevista de maneira áspera, demonstrando enorme incômodo com o imbróglio e, consequentemente, com as incertezas que, agora, terá de lidar e as muitas perguntas desconfiadas que lhe serão feitas.