O Brasil não é para amadores

Circula nas redes sociais uma montagem que ilustra a atual situação da política brasileira. A sequência de imagens mostra manchetes de jornais sobre a cassação do deputado federal Deltan Dallagnol, que perdeu o mandato mesmo depois de diplomado. Em tese, a cassação do parlamentar caberia à Câmara, mas isso mudou depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) assumiu o papel de “Poder Moderador” no Brasil.

Paralelamente, o presidente da Câmara, Arthur Lira, teve um recurso desengavetado depois de quase três anos pelo STF — quando o governo Lula estava na iminência de perder a votação da medida provisória (MP) que reestrutura seu ministério. Se isso ocorresse, o petista amanheceria no dia seguinte com 24 pastas, e não com 27.

O caso de Lira acabou não tendo seguimento no STF, depois que a MP dos Ministérios avançou na Câmara. Dallagnol seguirá sem mandato e ainda corre o risco de ter de pagar R$ 3 milhões por causa de despesas durante a força-tarefa da Lava Jato — operação que conseguiu repatriar ao menos R$ 15 bilhões surrupiados dos cofres públicos.

O triunfo da indecência

Dirceu e Kakay, em Paris | Foto: Arquivo Pessoal/Kakay

Nesta semana, o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, compartilhou uma foto que ilustra perfeitamente o que está acontecendo no Brasil. Ele aparece sorridente ao lado do ex-deputado José Dirceu fazendo um “L” com a mão esquerda, numa referência ao gesto que marcou a campanha de Lula. A imagem foi enviada por Kakay numa lista de contatos do WhatsApp logo depois da confirmação da cassação do mandato de Deltan Dallagnol — um dos símbolos de um tempo em que o país tentou acabar com a corrupção. Kakay e Dirceu estavam em Paris, onde o advogado tem uma casa próxima à Avenida ​​Champs Élysées.

Além do deboche, a cena é repleta de simbolismos. O principal deles é que, não fosse um indulto natalino concedido em 2015 por Dilma Rousseff e referendado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, José Dirceu estaria preso, e não na França. O também ex-deputado Daniel Silveira não teve a mesma sorte. Dirceu, aliás, detém um passaporte novo e hoje pode viajar pelo mundo. Recuperou suas contas bancárias e pode escrever o que bem quiser nas redes sociais, ao contrário de 1.045 pessoas no Brasil que respondem a ações penais no Supremo por causa dos protestos do dia 8 de janeiro em Brasília. A maioria é monitorada por tornozeleira eletrônica.

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