Presidente da Câmara da Capital diz que só abre CPI depois das eleições

Carlão disse ao Correio do Estado que teme que vereadores façam de comissões um palanque para a campanha eleitoral

“Se quiserem atacar o ex-prefeito [Marquinhos Trad, do PSD], que ataquem, mas não venham usar a Câmara Municipal, isso não. 

Sou contra fazer politicagem com isso”, descarregou Carlos Augusto Borges, o Carlão, presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, quando questionado sobre o motivo de resistir à ideia da criação de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) no Legislativo municipal.  

Com Carlão está a decisão sobre a criação de várias CPIs. A mais recente é para investigar as contratações pelo Programa de Inclusão Profissional (Proinc). 

Mas também há pedidos para investigar a conduta de Marquinhos em seu gabinete – sobre supostos atos de abuso sexual –, para investigar o contrato de transporte coletivo com o Consórcio Guaicurus e também para apurar irregularidades no sistema de Saúde de Campo Grande.  

“Se apresentarem a partir de novembro [depois do pleito de outubro], sim, tudo bem”, disse o parlamentar.

Marquinhos Trad deixou a prefeitura em março, cinco meses atrás, para concorrer ao governo de Mato Grosso do Sul. Enquanto ele permaneceu no poder, exerceu influência em quase toda a Câmara. O cenário mudou assim que renunciou ao cargo.  

Carlão acha que a criação de CPI a menos de dois meses das eleições é um “fator eleitoreiro” e que vereadores poderiam se aproveitar do “momento político”, em vez de realmente dedicarem-se à investigação.

O presidente da Câmara afirmou que 17 dos 29 vereadores de Campo Grande são candidatos nas eleições de outubro, daí o interesse em criar CPIs. Os parlamentares concorrem a mandatos de deputado estadual e deputado federal.

Carlão disse ainda que “mente” o vereador que diz que há quatro pedidos de CPIs na Câmara emperrados por relutância. As CPIs, ao menos a ideia de criá-las, atingem em cheio a ex-gestão de Marquinhos, não a da atual prefeita Adriane Lopes, do Patriota.

BOAZINHA

Um dos vereadores que alega que o presidente da Câmara resiste à ideia das CPIs é o professor André da Fonseca, do Rede. Ele propôs a criação da CPI do Proinc, um projeto da prefeitura criado para favorecer famílias desempregadas e de pouca renda.

O parlamentar afirmou que, embora tenha se empenhado em convencer os colegas a assinarem pela comissão, acha que o propósito não segue adiante porque a “Câmara é muito boazinha”.

Pelos cálculos do vereador, apenas mais uma assinatura seria suficiente para completar as 10 exigidas por regra legislativa. A ideia do parlamentar é saber se o Proinc tem cumprido a missão social. Há suspeitas de que o programa tenha virado uma espécie de cabide de emprego e favorecido pessoas que não têm a ver com a proposta.

Carlão disse, nesta sexta-feira à tarde, ao Correio do Estado que, caso as 10 assinaturas sejam juntadas para a criação da CPI do Proinc, ele vai acionar a Procuradoria Jurídica da Câmara para ver se há um “fato determinado” que “ampare ou legitime” a criação da comissão.

Reportagem publicada pelo Correio do Estado nesta semana mostrou que entre os contratados do Proinc, programa que nasceu para substituir parte da mão de obra que antes era empregada pela CG Solurb e que agora tem mais de 2,8 mil empregados, há até pessoas condenadas por tráfico de drogas.  

JUSTIFICATIVA

Carlão afirmou ainda que a prefeitura vai explicar à Câmara Municipal como anda o projeto e se há irregularidades.

O vereador Professor André busca informações sobre a relação das pessoas beneficiadas com o Proinc desde o ano passado, período em que a cidade era administrada por Marquinhos Trad. O parlamentar recorreu à Justiça, mas, ainda assim, não conseguiu.

Semana passada, a administração municipal listou os nomes e os publicou no site da prefeitura.

Para Carlão, o Proinc deve ser investigado depois que a prefeitura apresentar detalhes de como funciona e quantas pessoas atuam nele, se houver falhas, que sejam apuradas.

Outra tentativa frustrada de criação de CPI na Câmara tem a ver com a denúncia contra Marquinhos, que teria praticado assédio sexual enquanto prefeito até dentro de seu gabinete. Há suspeitas de ataques sexuais contra mulheres que estariam precisando de dinheiro ou desempregadas e foram atrás da ajuda do ex-prefeito.

Marquinhos, segundo as denúncias, teria concordado em socorrer as eventuais vítimas, contudo, desde que elas aceitassem fazer sexo com ele.

Carlão diz que o episódio já é investigado e Marquinhos não é mais prefeito, portanto, não enxerga a necessidade de criação de CPI.

Outras duas tentativas para a criação de CPIs, segundo vereadores ouvidos pela reportagem, têm ligação com o transporte coletivo e a Secretaria Municipal de Saúde.

2,8 mil empregados no proinc

O mais recente pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara Municipal de Campo Grande é para investigar se o Proinc, programa da prefeitura da Capital, inchou sua base de contratados para mais 2,8 mil pessoas para atender a nomeações políticas. 

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