Depois de um mês de discussões, os 27 Estados membros da União Europeia (UE) concordaram em impor um novo pacote de sanções ao petróleo russo. A medida não altera o cenário do conflito que envolve a Ucrânia, mas aumenta o custo da guerra para o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Como mostra editorial publicado nesta quarta-feira, 1º, pelo The Wall Street Journal, a nova rodada de sanções aplicada ao Kremlin proibirá as importações de petróleo russo por via marítima, assim como o seguro para as empresas que o transportam. “Essas medidas podem não só reduzir as vendas de petróleo que alimentam a máquina de guerra de Putin e a economia da Rússia, mas também têm um simbolismo importante”, diz o texto. Mais de 60% das importações de petróleo russo na Europa vêm por navios petroleiros.
No entanto, as sanções isentam as importações por gasodutos. Essa concessão tem o objetivo de não prejudicar os países bloqueados por terra que não podem substituir facilmente o petróleo russo, como a Hungria, a Eslováquia e a República Tcheca. Berlim e Varsóvia também consomem o insumo canalizado, mas prometeram eliminar as importações ainda neste ano.
Isso equivale a um embargo de 90% das importações russas de petróleo até o fim de 2022. Apesar de os críticos dizerem que essa medida não prejudicará tanto a Rússia quanto a proibição das importações de gás natural, visto que o petróleo pode ser redirecionado para países como a China e a Índia, o impacto das sanções não deve ser subestimado.
“A Europa é responsável por cerca de metade das exportações de petróleo bruto da Rússia”, observa o jornal norte-americano. “O resto do mundo não pode absorver todas as suas importações, até porque muitas refinarias em outras regiões não são adequadas para processar misturas russas.”
Mesmo assim, as empresas envolvidas nas exportações desenvolveram artimanhas para contornar os problemas. Em maio, combustíveis parcialmente feitos de petróleo russo desembarcaram em Nova Iorque. As cargas foram trazidas por meio do Canal de Suez e do Atlântico, vindas de refinarias indianas. Nova Délhi tem sido uma grande compradora do petróleo russo.
A proibição do seguro para os transportadores impedirá o Kremlin de redirecionar as exportações, e os comerciantes manifestam preocupação com o risco de as sanções reduzirem a demanda pelo petróleo russo. É por essa razão que o preço do insumo subiu acima de US$ 100 por barril desde que a invasão da Ucrânia teve início. Na terça-feira, a cotação era de US$ 116.
“O preço mais alto do petróleo, sem dúvida, prejudicará o Ocidente”, afirma o The Wall Street Journal. “Mas talvez não tanto quanto as sanções possam prejudicar Putin. A Rússia exportou US$ 180 bilhões em petróleo no ano passado — aproximadamente três vezes mais que as vendas de gás natural.”
Apenas a receita da Rosneft, empresa cujo maior acionista é o Kremlin, constitui um quinto do Orçamento da Rússia. Com menos compradores à disposição, as empresas russas não terão escolha a não ser reduzir a produção, o que poderia prejudicar sua infraestrutura energética.
Ao aumentar o custo econômico da guerra, Putin espera corroer o apoio ocidental a Kiev. Quanto mais tempo o conflito durar, mais os preços da energia e dos alimentos permanecerão altos. A esperança do ex-agente da KGB é que, se a dor aumentar o suficiente, talvez a Europa e os Estados Unidos parem de fornecer apoio militar à Ucrânia e pressionem por uma trégua. Ao mesmo tempo, os líderes da Europa Ocidental têm de se preocupar com o impacto de uma possível recessão econômica.
“Mas as sanções mostram que a Europa está disposta a fazer sacrifícios econômicos para ajudar a Ucrânia a deter a agressão do Kremlin”, diz o jornal. “Também é notável que a Europa prosseguiu com as sanções petrolíferas, apesar do esforço silencioso dos EUA em favor de uma proposta tarifária alternativa. O presidente Joe Biden está preocupado com o impacto da retirada do petróleo russo do mercado mundial sobre o preço da gasolina.”
A Casa Branca ajudaria a si mesma e ao mundo nesse ponto se parasse sua guerra política e regulatória contra os combustíveis fósseis. Na mesma linha, a Europa seria menos vulnerável economicamente caso não tivesse se tornado tão dependente do petróleo e do gás russos.