A imagem do Brasil perante a imprensa internacional é quase sempre a pior possível. Vez ou outra, no entanto, os veículos de comunicação estrangeiros acertam em suas análises. É o caso do Wall Street Journal, que recentemente publicou um artigo chamado “Biden’s Hostility Backfires in Brazil” — A hostilidade de Biden ao Brasil sai pela culatra, em tradução livre.
“Joe Biden está no cargo há 15 meses e ainda não conversou com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro”, diz o texto, assinado pela jornalista Mary Anastasia O’Grady. Isso não ocorreu por falta de iniciativa de Bolsonaro, mas porque Biden se recusou a atender às suas ligações.
Bolsonaro, assim como outros líderes políticos não alinhados às pautas esquerdistas, está na lista negra do democrata. Isso porque, na administração Biden, a política externa é uma ferramenta para alimentar seus ressentimentos e promover a agenda “progressista”. Quem não compartilha desses valores é sumariamente excluído pelo presidente dos Estados Unidos.
O governo de centro-direita da Guatemala experimentou esse colonialismo democrata. “Talvez porque os tiranos de Washington pensem que podem subjugar um pequeno país”, explica O’Grady. “Mas ainda não deu resultados.”
O Brasil é a segunda maior democracia do Hemisfério Ocidental e possui a 11ª maior economia do mundo, segundo o Fundo Monetário Internacional. De acordo com o Bureau of Economic Analysis, agência de estatísticas vinculada ao governo norte-americano, o comércio bilateral de bens e serviços entre os EUA e o Brasil movimentou quase US$ 100 bilhões em 2021. Isso representa um aumento de cerca de 30%, em comparação com 2020. Como resultado, o superávit comercial dos EUA aumentou para mais de US$ 26 bilhões.
“Com a ideologia antiamericana e antimercado varrendo a América Latina nos dias atuais — de Honduras, El Salvador e Nicarágua a Venezuela, Chile, Bolívia, Argentina e Peru —, o aprofundamento das relações EUA–Brasil é importantíssimo”, argumenta O’Grady.
Sejam quais forem as razões, a postura de Biden representa uma ruptura com a tradição diplomática norte-americana. José Sarney, ex-presidente brasileiro (1985-1990), foi um populista avesso à livre iniciativa. Durante seu mandato, impôs um severo controle de preços. Mesmo assim, o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, o recebeu na Casa Branca para uma visita oficial. O encontro entre os líderes políticos ocorreu em 1986.
Mas há um exemplo ainda mais emblemático. Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil entre 2003 e 2010, era um aliado inseparável de Fidel Castro, eterno proprietário de Cuba. Isso não impediu que George W. Bush, então presidente dos Estados Unidos, o visitasse em 2005.
“Alguns imaginam que, como Bolsonaro demorou em parabenizar Biden por sua vitória nas eleições de 2020, o presidente dos Estados Unidos está curando uma ferida”, diz O’Grady. “Uma explicação igualmente plausível é o desprezo do governo norte-americano pela política de Bolsonaro.”
Bolsonaro conquistou adeptos sobretudo nos últimos anos. Isso porque se mostrou contrário ao politicamente correto e se recusou a aceitar os ditames de ambientalistas radicais. “Sua visão de mundo colide com a agenda política dos Estados Unidos, que inclui encorajar as embaixadas em todo o mundo a hastearem a bandeira do Black Lives Matter”, afirma O’Grady.
O ex-capitão de Exército foi eleito presidente da República em 2018 porque os brasileiros estavam fartos dos 13 anos de corrupções praticadas pelo Partido dos Trabalhadores (PT), segundo a jornalista. “Seja qual for seu pensamento sobre Bolsonaro, os brasileiros o escolheram como presidente.”