Meu pai recorria a um mesmo exemplo para afirmar que o terreiro de umbanda de Taquaritinga era o menos criativo do país. Em todas as sessões, o presidente Getúlio Vargas baixava no pai de santo que incorporava entidades para pronunciar apenas a expressão que abria os discursos do 1º de Maio no estádio de São Januário: “Trabalhadores do Brasilllllllll!” O “L” final, pronunciado com sotaque gaúcho, exige que a língua encoste no palato. Dita a saudação, Getúlio se retirava.
A entidade que animava os umbandistas da cidade interiorana parece ter baixado em Geraldo Alckmin. No fim da patética saudação ao ex-adversário, que agora acompanha tentando voltar à cena do crime, ele soltou o mesmo “L” que meu pai dizia ouvir: “Viva Lula! Viva os trabalhadores do Brasilllllll!”.
O “L” com sotaque mostra que Alckmin não se limitou a mudar de partido, de chefe, de religião, de discurso e de caráter. Para chegar à Vice-Presidência, e sonhar com a substituição do titular, o paulista de Pindamonhangaba topou até tornar-se gaúcho de São Borja.