O delegado da Polícia Federal Glauber Fonseca de Carvalho Araújo acionou, semana passada, a 16ª Vara Cível de Campo Grande contra o deputado federal Loester Carlos Gomes de Souza, o Trutis (PL), pelas acusações e ofensas que tem sofrido desde a divulgação do resultado das investigações sobre o falso atentado. O policial pede a condenação do parlamentar por danos morais.
Carvalho Araújo foi responsável pelas investigações sobre o suposto atentado sofrido pelo parlamentar em 16 de fevereiro de 2020. Trutis viajava de Campo Grande para Sidrolândia na companhia do seu chefe de gabinete, Ciro Nogueira Fidélis. O carro em que estavam foi atingido por vários disparos de arma de fogo.
Após oito meses de apuração, a PF concluiu que a tentativa de assassinato foi armada pelo próprio deputado com ajuda do assessor. Ambos respondem a processo no Supremo Tribunal Federal por falsa comunicação de crime, disparo de arma de fogo e porte ilegal de arma.
Ao inquérito, foram anexadas dezenas de provas sobre o falso atentado. Além de diversos laudos periciais, como a análise minuciosa de imagens de câmeras no trajeto feito pelo deputado — do momento em que deixou sua casa até o trecho da rodovia onde teria ocorrido a emboscada.
Delegado da PF Glauber Fonseca investigou falso atentado. (Foto: CBN/Campo Grande)
Também foram colhidos dados e informações do GPS do veículo utilizado por Trutis, como a saída do carro para uma estrada vicinal, onde os disparos foram feitos, bem como a falta de marcas de frenagens na estrada. O trecho por onde o deputado teria passado foi analisado com base em imagens de câmeras de segurança fornecidas por empresas instaladas às margens da rodovia e por órgãos públicos de fiscalização.
Constam ainda laudos dando conta da impossibilidade de o parlamentar ter saído ileso do ataque, uma vez que o carro foi atingido por vários disparos, além de Trutis relatar que trocou tiros com os supostos criminosos.
Perícia constatou que seria impossível deputado sair ileso do suposto atentado. (Foto: Reprodução)
A PF também reuniu provas sobre a falta de interesse de ambos os acusados de ajudarem no trabalho de investigação. Em uma delas, o assessor Ciro Fidélis entregou o celular aos investigadores, com dados de acesso, mas alterou a senha assim que deixou as instalações da PF.
“Safado” e “vagabundo” – No pedido de danos morais, o delegado Glauber Fonseca cita uma série de notícias e postagens nas redes sociais de Loester Trutis com acusações pessoais contra ele. Inclusive matérias publicadas pelo MS em Brasília, entre elas a que denunciou o deputado pelo uso de site criado por ele para atacar a Instituição Polícia Federal e o delegado responsável pelo caso.
Os ataques de Trutis começaram depois da Operação Tracker, deflagrada pela Polícia Federal em 12 de novembro de 2020, contra o parlamentar, assessores e irmãos dele. Na ação, foram apreendidos armas, munições e dinheiro. O parlamentar chegou a ser levado para a Superintendência da Polícia Federal em Campo Grande, mas foi liberado por decisão da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal.
“O Sr. Loester Trutis passou a atacar, direta e claramente, a pessoa do Delegado de Polícia Federal, o que pode ser constatado em reportagem publicada, em 18 de julho de 2020, no site G1”, descreve a defesa, citando trechos da reportagem em que Trutis diz que o delegado não tinha interesse no esclarecimento do caso, “com investigação cheia de erros grosseiros, o que leva a acreditar que o profissional tinha interesse em proteger o verdadeiro culpado”.
Matéria do MS em Brasília sobre o site em nome da cunhada do deputado. (Imagem: Reprodução)
A defesa segue citando as acusações diretas ao delegado. No Facebook, no “Diário de bordo”, de 18 de junho de 2021, Trutis chama Carvalho Araújo de “safado” e “fruta podre”:
“Tentativa do delegado militante, safado, da Polícia Federal do Mato Grosso do Sul. Pessoal, nada contra a Polícia Federal, tem serviços prestados excelentes ao nosso país, mas como toda instituição possui suas frutas podres. Esse delegado safado já está com promessa de ir pra Brasília. O cara nunca prendeu nem o pinto no zíper lá em Ponta Porã…”