‘Subserviência aos EUA’: como laços de Moro com Washington podem influenciar sua política externa?

Em recente entrevista, o ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, acusou o ex-juiz, Sergio Moro, de ter relações escusas com os EUA. Como os laços de Moro com Washington podem influenciar suas propostas de política externa?

As mais recentes pesquisas de intenções de voto para as eleições de 2022 revelam um quadro desolador para o candidato do Podemos, Sergio Moro. Juntos, os dois líderes da corrida presidencial pontuam mais do que todos os candidatos da chamada “terceira via”.

As pesquisas de opinião divulgadas nessa semana – Modalmais/Futura Inteligência, publicada na quarta-feira (26), e a XP/Ipespe, divulgada na quinta-feira (27) – mostram que o ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lidera com folga em todos os cenários simulados, tanto no primeiro, quanto no segundo turno.

Já as candidaturas da “terceira via” não ultrapassam os 10% das intenções de voto. Ambos os institutos de pesquisa revelam que o candidato do Podemos, Sergio Moro, e do PDT, Ciro Gomes, se encontram em empate técnico.

Apesar da lanterninha, Moro é o único nome da terceira via a atingir os 10% das intenções de voto. Além disso, a alta rejeição de Jair Bolsonaro (PL) pode ser considerada uma boa notícia para Moro, que disputa eleitorado com o presidente.

A pesquisa Modalmais aponta Bolsonaro como o candidato com mais elevado nível de rejeição: 47,3%. Em segundo lugar figura o ex-presidente Lula, com 37,1%, seguido por João Doria (PMDB) (23,2%), Sergio Moro (18,3%) e Ciro Gomes (16,5%).

Ícone da antipolítica, Moro deixou a magistratura em 2019 para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro. Em abril de 2020, pediu demissão do posto e assumiu cargo no setor privado, na empresa de consultoria Alvarez & Marsal, nos EUA. Confiante em seu futuro como político, em novembro de 2021, Moro se filiou ao partido Podemos.

viabilidade da candidatura de Sergio Moro está sendo questionada por especialistas, que não encontram espaço para o ex-juiz decolar.

A presidente da agremiação, Renata Abreu, assume que existem dificuldades para formar palanques estaduais para Moro, e acusa juízes do STF de se mobilizarem contra a candidatura do ex-colega, conforme reportou o Metrópoles.

Nesta terça-feira (1º), foi a vez do ex-presidente Lula dar seu parecer sobre a candidatura do ex-juiz. Para ele, Moro seria uma “figura insignificante” e um “candidato medíocre”.

“Não acredito em terceira via e não acredito que o Moro tenha muito futuro na política. Sinceramente de vez em quando fico pensando se devo falar do Moro ou não, porque ele é uma figura insignificante, um deus de barro, construído para me prejudicar“, disse Lula à rádio Super Tupi, do Rio de Janeiro.

Lula levantou suspeitas sobre supostas ligações de Sergio Moro com órgãos de Justiça e Segurança norte-americanos.

“Vamos esperar o tempo para saber efetivamente o que vai acontecer com esse cidadão que na minha opinião tem uma ligação duvidosa com a CIA e com o Departamento de Justiça dos EUA”, declarou o ex-presidente.

Inferências sobre as relações entre Moro e Washington não são novidade. De acordo com o jornal francês Le Monde, Sergio Moro realizou viagem aos EUA ainda em 2007, quanto fez contatos com membros do FBI e dos Departamentos de Justiça e de Estado do país.

Em 2015, em meio à Operação Lava a Jato, membros do FBI visitaram a cidade de Curitiba para “receber explicações sobre os procedimentos em andamento”.

Durante sua estadia no Ministério da Justiça e Segurança Pública, Moro tirou licença remunerada para viajar aos Estados Unidos, em julho de 2019. De acordo com investigação da Agência Pública, a agenda do ex-ministro pode ter incluído encontros com o FBI em Washington.

Política Externa de Moro

Os laços com o Tio Sam devem influenciar a condução da política externa sob um eventual governo Moro, acredita o professor de história da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Mateus Henrique de Faria Pereira, que pesquisou a atuação de Moro na Operação Lava a Jato.

“Acho que Moro só acentuaria a subserviência do Brasil em relação aos Estados Unidos, porque o grande modelo do Sergio Moro é o modelo norte-americano”, disse Faria Pereira.

Segundo ele, Moro é parte de grupos da elite brasileira que acreditam que a “corrupção é o maior problema do país”.

“Essa visão profere que o Brasil só se tornaria uma nação central caso a corrupção fosse extirpada, ou se nós tivéssemos um estamento burocrático que separasse o público do privado”, explicou o especialista.

Em nome do combate à corrupção, Moro se lançou em uma “missão messiânica e revolucionária”, na qual “o povo brasileiro precisa ser tutelado, como se ele não fosse capaz de resolver ele mesmo os problemas estruturais, como seria, supostamente, a corrupção”.

O modelo de combate a corrupção escolhido pelo então juiz foi o norte-americano, que faz amplo uso de figuras estranhas ao aparato jurídico brasileiro, como a delação premiada.

“As relações da Operação Lava Jato com a CIA buscavam importar os modelos de combate à corrupção implementados nos EUA”, disse Faria Pereira. “As formas de cooperação internacional feitas por Moro eram muitas vezes ilegais, como ficou comprovado posteriormente.

“Um eventual governo Moro continuaria a nutrir laços não só com os EUA como país estrangeiro, mas ainda com órgãos internos do governo norte-americano.

“Acredito que a política externa de Moro seria similar à de Bolsonaro. Uma forma menos caricatural, mas talvez mais efetiva institucionalmente de subserviência aos interesses dos EUA”, concluiu o especialista.

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