A ONU realizou nesta segunda-feira (13/09) uma conferência de doadores em Genebra que obteve mais de 1 bilhão de dólares (R$ 5,2 bilhões) para manter em funcionamento seus programas de apoio no Afeganistão, mais do que os 606 milhões de dólares que a organização buscava.
Desde o colapso do governo afegão que era apoiado por países ocidentais e a tomada do poder pelo Talibã em agosto, o Afeganistão está à beira de uma crise humanitária. E muitos países manifestaram hesitação crescente em fornecer ajuda devido à preocupação sobre como os recursos seriam gastos em um governo sob controle do Talibã.
Quarenta ministros de diferentes governos, incluindo o ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas, e o chefe do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Peter Maurer, participaram da conferência.
Maas afirmou que a comunidade internacional tinha “a obrigação moral” de continuar a apoiar o povo afegão, mas ressaltou que as agências de ajuda humanitária precisavam de “acesso adequado” e que seus funcionários tinham que poder realizar suas tarefas “sem medo de intimidação ou de restrições por parte do Talibã”.
Afeganistão “precisa de uma corda de salvamento”
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse na abertura da conferência que “o povo do Afeganistão precisa de uma corda de salvamento” durante “o seu momento mais difícil”.
“O povo do Afeganistão está enfrentando o colapso de um país inteiro, tudo de uma só vez”, afirmou.
A ONU informou que o dinheiro de ajuda humanitária irá para manter os serviços médicos, o abastecimento de água e o saneamento para milhões de afegãos. Além disso, o financiamento apoiaria mulheres e crianças e o funcionamento de projetos educacionais.
Financiamento para abrigos de emergência também foi solicitado, já que 3,5 milhões de afegãos estão hoje deslocados internamente. O dinheiro também é necessário para fornecer apoio alimentar.
Guterres não especificou quanto do financiamento prometido de 1 bilhão de dólares seria destinado para o orçamento de emergência da ONU dos próximos meses, ou o que seria potencialmente destinado mais tarde.
Crise alimentar se aproxima
Uma pesquisa com 1.600 afegãos realizada neste mês pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) mostrou que 93% dos entrevistados não tinham comida em quantidade suficiente, principalmente porque não conseguiam sacar dinheiro para pagar pelos itens.
“Os bancos estão fechados. O Banco Central não emite liquidez para os bancos privados”, disse à DW Stefan Recker, diretor nacional da Cáritas no Afeganistão. “As agências de ajuda que querem trabalhar e prestar ajuda simplesmente não conseguem por falta de liquidez.”
Mesmo antes da tomada de poder pelo Talibã, as circunstâncias alimentares no Afeganistão já eram terríveis, disse à DW Mary-Ellen McGroarty, diretora nacional do PMA para o Afeganistão. A seca e a pandemia de coronavírus contribuíram para que 14 milhões de pessoas estivessem em fome severa no país.
“É fundamental para o esforço humanitário que, no momento de maior necessidade, a comunidade internacional esteja ao lado das mulheres, crianças e homens do Afeganistão, cujas vidas foram arruinadas sem terem culpa por isso”, disse.
Alemanha e EUA prometem milhões em ajuda
O Ministro das Relações Exteriores alemão Maas disse que a Alemanha elevou sua ajuda humanitária para o Afeganistão e para a região em 100 milhões de euros (R$ 616 milhões). “Planejamos fornecer outros 500 milhões de euros (R$ 3 bilhões) para apoiar o Afeganistão e seus estados vizinhos”, disse ele aos repórteres durante a conferência.
O ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller, alertou para uma crise humanitária iminente, e pediu uma reforma na forma como a ajuda internacional é organizada. Com um fundo de emergência da ONU de 10 bilhões de euros, “poderíamos evitar com antecedência mortes em todo o mundo pela fome”, disse ele ao Funke Media Group nesta segunda.
A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse na conferência que Washington forneceria quase 64 milhões de dólares (R$ 334 milhões) em nova assistência humanitária para o Afeganistão.
“Comprometemo-nos hoje a atender a este apelo urgente de apoio financeiro, comprometamo-nos a apoiar os trabalhadores do setor humanitário enquanto fazem seu trabalho tão importante, e a intensificar a ação humanitária no Afeganistão para que possamos salvar as vidas dos afegãos em necessidade”, disse.
Thomas-Greenfield acrescentou que “as agências de ajuda humanitária não podem fazer seu trabalho se o Talibã não apoia … princípios humanitários”.
Situação é “corrida contra o tempo”
Filippo Grandi, comissário da ONU para refugiados, alertou no domingo que o “ressurgimento de conflitos, violações de direitos humanos ou o colapso da economia e dos serviços sociais básicos” poderia fazer com que mais afegãos fugissem para o exterior.
Ele pousou em Cabul na segunda-feira para avaliar a situação e foi recebido por Khalil-ur-Rahman Haqqani, ministro interino dos refugiados e repatriação do Talibã, que está em uma lista de procurados pelos Estados Unidos.
Anthea Webb, diretora regional adjunta do PMA, descreveu a situação como “uma corrida contra o tempo e contra a neve para fornecer apoio para salvar as vidas do povo afegão que mais precisa”.
A Organização Mundial da Saúde também está buscando fundos para impedir o fechamento de centenas de postos de saúde em todo o país, depois que seus doadores retiraram seu apoio devido à tomada do poder pelo Talibã.