O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou por telefone nesta quinta-feira (9) com o da China, Xi Jinping, e ambos reconheceram suas responsabilidades em garantir que a “competição” entre os respectivos países “não leve a um conflito”. A conversa foi somente a segunda entre os líderes desde o começo do mandato de Biden, iniciado em janeiro, depois de uma longa conversa que fizeram em fevereiro, e coincide com fortes tensões na relação bilateral.
“Os líderes tiveram uma discussão ampla e estratégia na qual conversaram sobre assuntos em que os nossos interesses convergem, e sobre áreas nas quais nossos interesses, valores e perspectivas divergem”, indicou a Casa Branca em comunicado. Ambos “acordaram que irão se relacionar de forma aberta e direta em todos esses assuntos”, acrescenta a nota, emitida na última hora de quinta em Washington, quando em Pequim já era sexta-feira pela manhã. Foi Biden quem tomou a decisão de ligar para Xi, e o fez motivado pela sua “irritação” sobre a alegada relutância de autoridades chinesas de escalão inferior em manter conversações sérias com seu Governo, explicou a Efe uma fonte oficial estadunidense.
A vice-secretária de Estado dos Estados Unidos, Wendy Sherman, visitou a China em julho para se reunir com o vice-ministro chinês de Exteriores, Xie Feng, mas esse encontro acabou mal sucedido e a diplomática voltou para Washington com a sensação de que seus interlocutores haviam se limitado a reiterar suas posturas, sem negociar. A chamada desta quinta foi um teste, para ver se o diálogo ao maior nível possível seria mais eficaz, dada a consolidação de poder em volta de Xi, indicou à rede CBS News um funcionário importante do Governo.
A Casa Branca foi mais diplomática em seu comunicado, e se limitou a indicar que Biden ligou para Xi como parte do “esforço que os Estados Unidos mantêm para gerenciar de forma responsável a sua competição” com a China. “O presidente Biden ressaltou o interesse duradouro dos Estados Unidos na paz, na estabilidade e na prosperidade no Indo-Pacífico e todo o mundo; e os líderes abordaram a responsabilidade de ambas as nações para que a rivalidade não leve a um conflito”, conclui a nota.
A Casa Branca não deu mais detalhes sobre os assuntos concretos que os presidentes abordaram, mas em outras situações o Governo de Biden identificou a crise climática e a prevenção de tensões na península coreana como dois temas em que ambas as potências têm interesses em comum. A lista de desentendimentos é muito mais larga, e longe de ser contida, já que tensão bilateral aumentou desde a chegada de Biden ao poder, que tornou a competição com Pequim um pilar central em sua política exterior e comercial. Nos últimos meses, a relação se ressentiu pela acusação dos Estados Unidos de que a China esteve por atrás do ciberataque global contra a Microsoft em março, algo que Pequim nega veementemente.
Além disso, o atritou aumentou na esteira das advertências dos Estados Unidos às empresas do país de que não negociem com entidades que operem em Hong Kong ou na região noroeste chinesa de Xianjiang, onde Washington acusa Pequim de cometer graves abusos contra os uigures e outras minorias étnicas. Durante a conversa, Xi disse a Biden que se as duas potências se enfrentam “ambos os países e o mundo sofrerão”, segundo um comunicado do Ministério de Assuntos Exteriores do país asiático. Biden e Xi não se reuniram ainda pessoalmente, ainda que a Casa Branca não descartou que possa acontecer durante a cúpula dos líderes do G20, que está marcada para o final de outubro em Roma.