Após as manifestações do dia 7 de setembro, o confronto entre executivo e judiciário chegou em um ponto fora do controle. Em um convite do presidente Bolsonaro, Temer conseguiu acalmar os ânimos e restabelecer a harmonia entre os poderes.
A declaração em tom de recuo publicada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta quinta-feira (9), fez parte de uma articulação entre o ex-presidente Michel Temer e Bolsonaro para diminuir os impactos dos discursos feitos pelo presidente no dia 7 de setembro.
Os acontecimentos que levaram ao recuo do presidente Jair Bolsonaro começaram há cerca de 15 dias, quando o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas), fez um contato por telefone com Michel Temer, dizendo que gostaria que Temer se engajasse na explicação ao presidente sobre as possíveis consequências de um rompimento entre o Planalto e o Supremo.
Temer disse que estava à disposição, mas não considerou conveniente que ele procurasse o presidente. Ciro Nogueira avisou Bolsonaro, que começou a trocar mensagens com o ex-presidente, de forma que começaram a estreitar os laços.
Depois dos acontecimentos de 7 de setembro, Jair Bolsonaro ligou para Michel Temer e pediu para que o ex-presidente fizesse uma avaliação da repercussão dos atos. Temer perguntou a Bolsonaro se ele deveria responder como amigo, ex-presidente ou político.
A primeira opção foi a escolhida, e Temer afirmou que, em um primeiro momento, as pessoas poderiam até achar positiva a mobilização dos caminhoneiros, mas que inevitavelmente, quando começasse a faltar combustível e comida, com a já alta inflação, a conta cairia no colo de Bolsonaro.
Segundo aliados do ex-presidente, a franqueza da conversa foi o motivo de o presidente ter acatado as constatações de Temer, que ofereceu, já na ocasião, que poderia falar com o ministro do STF Alexandre de Moraes. Temer disse ainda que Bolsonaro precisaria fazer um gesto de recuo devido à dureza dos discursos feitos no 7 de setembro, o que foi concordado por Bolsonaro.
Na quarta-feira (8), as conversas persistiram. Temer ligou para Alexandre de Moraes e informou que estaria indo a Brasília na quinta-feira (9) e que o presidente estaria disposto a fazer um gesto de recuo.
Temer perguntou a Moraes quais eram os problemas da relação dos dois. O ministro disse que não havia nenhum problema pessoal contra o presidente, filhos e aliados, mas que haviam ações que chegavam no Supremo e que precisavam ser tratadas juridicamente.
Temer informou Bolsonaro sobre a conversa, já começando a redigir um esboço da nota que seria publicada pelo presidente. O texto, então, foi passado para o publicitário Elsinho Mouco, com quem Temer trabalha há mais de 15 anos, com objetivo de redigir uma versão menos formal do documento.
O ex-presidente embarcou para Brasília em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) para conversar com Bolsonaro em um almoço, onde entregou o texto ao presidente. Apenas ministros civis estiveram presentes durante a conversa em que, segundo pessoas presentes na movimentação, houve ajustes feitos por Bolsonaro no texto.
Houve certa ansiedade por parte desses ministros para a publicação da declaração, exatamente por já terem prometido anteriormente um gesto de recuo de Bolsonaro que até então não havia acontecido.
Após a declaração já ter sido assinada pelo presidente, Michel Temer ligou para Moraes. Durante a ligação, a conversa entre Bolsonaro e o ministro acontece em tom ameno, com o qual o Moaraes explicou novamente que não trata de problemas pessoais contra o presidente, e sim de trabalho.
Nesse momento, Bolsonaro avisou a Moraes que estaria publicando uma nota na qual iria reparar os excessos cometidos no dia 7 de setembro.
Após ajudar Bolsonaro com carta, Temer diz que país precisa de ‘pacificação’ e ‘entendimento’
o ex-presidente Michel Temer disse em uma rede social nesta sexta-feira (10) que a “solução” para problemas do país “está na pacificação e no entendimento”.
Temer publicou o comentário junto com um vídeo no qual embarca em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB). O ex-presidente, que mora em São Paulo, esteve na quinta (9) com Bolsonaro para tentar contornar a crise institucional entre o Planalto e o STF
“Sempre que fui chamado para ajudar o país, busquei o diálogo e coloquei as instituições acima dos homens. A solução para muitos problemas que os brasileiros enfrentam está na pacificação e no entendimento. Torço para que sigamos nesse caminho hoje e sempre”, escreveu Temer.