Para os EUA, havia apenas duas escolhas no Afeganistão: ou se retirar do país ou agravar o conflito, disse o presidente norte-americano, Joe Biden, nesta terça-feira (31), após EUA completarem sua retirada do país.
“Essa foi a escolha: entre a saída ou a escalada [de tensões]. Eu não ia estender essa guerra para sempre, e [também] não estenderia uma saída para sempre”, declarou Biden.
O presidente discorda de quem acha que o processo de evacuação das forças militares e aliados podia ter sido feito de um jeito mais ordeiro ou organizado.
“Há quem diga que deveríamos ter começado as evacuações em massa mais cedo, e [questionam se] isto não poderia ter sido feito de uma maneira mais ordeira. Eu discordo respeitosamente”, comentou o democrata.
Na segunda-feira (30), de acordo com o Pentágono, os EUA concluíram a retirada de suas forças do Afeganistão, quase 20 anos depois de invadir o país após os ataques de 11 de setembro de 2001 no estado norte-americano de Nova York.
© REUTERS / SGT. ISAIAH CAMPBELL / CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS DOS EUAFuzileiro naval dos EUA segura um bebê nos braços durante evacuação no Aeroporto Internacional de Cabul, Afeganistão
Desde que anunciaram sua saída, o Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em outros países) conduziu fortes ofensivas pelo país afora, acabando por estabelecer seu controle em Cabul em 15 de agosto de 2021. A partir desse dia, os EUA – e suas forças aliadas estrangeiras – sabiam que o tempo era escasso para evacuar todas as suas forças e aliados afegãos que os ajudaram durante as últimas duas décadas.
No final, “esta decisão sobre o Afeganistão não se refere apenas a este país. Trata-se de acabar com uma era de grandes operações militares para refazer outros países”, afirmou Joe Biden.
Nas últimas duas semanas, o Aeroporto Internacional de Cabul presenciou o desespero de vários afegãos, tendo alguns deles acabado por morrer enquanto tentavam fugir do Afeganistão, agora sob domínio do grupo insurgente. Porém, os principais receios de Washington, e do mundo, se concretizaram na sexta-feira (27), quando um homem-bomba e cúmplices com armas de fogo leves realizaram um ataque no aeroporto de Cabul. Esse ataque, por sua vez, foi reivindicado pelo Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) (grupo terrorista proibido na Rússia e em outros países), um ramo do Daesh (grupo terrorista proibido na Rússia e em outros países).
© AFP 2021 / SHAH MARAIPolicial afegão monta guarda no mercado explodido no dia 7 de agosto em Cabul
Ante tal acontecimento, o presidente dos EUA avisou o EI-K que Washington não vai parar com ações militares contra o grupo. “Para o EI-K: ainda não acabamos com você”, ameaçou Biden durante seu discurso na Casa Branca.
Segundo a ONU, deverá haver entre 500 e 1.200 combatentes do EI-K no Afeganistão. Este grupo foi responsável por cerca de 100 ataques no país em 2020, e realizou massacres em mesquitas, praças e até mesmo em hospitais. Contudo, por enquanto, o EI-K não é suficientemente poderoso ou popular para desafiar o domínio do Talibã, sendo que agora é pouco provável existam alvos ocidentais importantes no Afeganistão após a retirada das forças estrangeiras.